REZADORES MANTÉM SAÚDE DO POVO NO CEARÁ

CASA DE VAL REZADOR

Juazeiro do Norte. Um raminho de planta, uma cruz ou um cordão, o rosário, oração e concentração. A ponte que leva a Deus e traz a cura. A prática dos rezadores em diversas localidades do Nordeste brasileiro sobrevive. Nos recônditos periféricos das cidades há um rezador. São pessoas simples. Fizeram o voto a Deus. Por uma promessa ou dom, assumem a postura de levantar quem está caído pela reza. A fé cura os males.

Nas comunidades, os rezadores são quase como médicos, mas espirituais. O que o doutor das letras não cura, o rezador tem a oração no pé da língua. Há algumas décadas, a presença dos rezadores era bem maior nas comunidades. Eram poucos os médicos. Segundo o escritor e dentista, Geraldo Menezes Barbosa, as pessoas se voltavam para as orações.

Em Juazeiro ainda é comum a presença de rezadores, principalmente nas proximidades do Horto. Alguns deles vêem na terra do Padre Cícero um lugar propício para desenvolver seu dom ou pagar a promessa, de muitas vezes passar o resto da vida dedicado à orar nas pessoas, também fortalecendo a fé de cada uma, mostrando o caminho da oração. “É o sacrifício”, diz José Rosivaldo, conhecido nas imediações como Val Rezador. Chegando pela estrada velha do Horto, é um dos indicados. A casa simples, com oratório na entrada e uma fila de gente para ser consultada. Todo dia é assim.

Mau olhado, mau vizinho, quebranto, inveja e por aí vai a lista de doenças. Val Rezador viaja com constância para realizar trabalhos de oração em outros locais. “Já trabalhei muito para a cura de viciados em drogas e cachaça, mas o sofrimento é grande. Tem dia que nem agüento, mas tenho que pagar a promessa que fiz e foi o meu quem pediu”. É assim, alguns dos rezadores destacam correntes de oração que seguem. São vozes que traduzem a oração determinada para cada situação. Afirma seguir 27 linhas de trabalho, mas em nove meses a penitência de mais de 20 anos acaba. “Vou continuar somente em crianças”.

Geraldo afirma que a presença de médicos e o poder dos meios de comunicação têm afastado as pessoas. “Há uma evasão muito grande no seio das massas. Existe um materialismo banal e sexual”. Recentemente ele lançou o livro sobre Maria do Carmo, popular Maria Raio X. Ela conseguiu atrair multidões por meio de um fenômeno de ver as pessoas tal qual uma radiografia e perceber males existentes no interior do ser humano. Um fenômeno que considera paranormal, a ser estudado. Junto com esse dom, a capacidade de levantar a fé das pessoas. Mas, ressalta, diferente das rezadeiras.

Barbosa cita casos famosos em Juazeiro. Um deles de uma rezadeira quando orava numa mulher com ferida, todos saltavam. “Era de admirar o poder exercido pela reza”. Esse caso foi relato por Mário Malzoni, médico famoso. “O rezador é um intermediário entre o poder de Deus e o doente”. Mãe Dodô uma rezadeira famosa. Teve legião de seguidores em eventos religiosos. “Saíam vestidos de brando a tocar rabecas nas procissões”. Multidões, nos anos 70, iam até sua porta em busca de oração. Ela faleceu há mais de 10 anos.

Elizângela SantosRepórter

FONTE;  DIARIO DO NORDESTE