O ponto riscado possui
grande significado na liturgia Umbandista. O seu significado expande-se além das
suas propriedades magísticas, na sua consagração há muito como “escrita mágica sagrada
simbólica” (Saraceni, R.)
Os pontos riscados,
como símbolos magísticos, podem também evocar sinais expressos numa
representação orientada para um determinado propósito ou para a própria
trajectória humana, sendo muitas vezes usada a pemba*, pelos guias, por para
poder riscar os seus pontos ou símbolos espirituais. São espaços cuja função é
dada e orientada pela entidade. É também através do ponto riscado que os
Caboclos, Pretos-Velhos ou Exus contam a sua história, a sua origem e passagens
do mundo material e astral, e também no qual manifestam a sua identidade,
diferenciada das demais, sendo o próprio estandarte da
entidade.
Compreendendo-o deste
modo, o ponto riscado é um dos mais vigorosos meios magísticos utilizados na
Umbanda, consistindo na sua base de um conjunto de símbolos feitos com pemba e
agrupados de forma a movimentar energias e a criar campos de forças, ou como
base de sustentação de alguns trabalhos. A variedade de funções que é sua
propriedade é vasta; os pontos de descarrego tão sobejamente conhecidos; os
pontos de firmeza, etc.
Os pontos riscados com
Pemba representam uma grafia de projecção astral; de símbolos que se revestem de
poder mágico, que a força do Orixá lhes confere. Criam genericamente uma espécie
de campo energético, onde o instrumento utilizado pela entidade, a Pemba,
manipula as forças da Natureza na afinidade com a entidade, na sua identificação
e domínios, na prossecução do efeito desejado (dependendo também
claramente do merecimento do consulente e do médium). São códigos vinculados
ao mundo espiritual, no campo de acção de determinada falange de entidades.
Quando são desenhados sem conhecimento de causa, acabam por “não projectar a sua
grafia luminosa” (Lima, C.) e não passam de sinais inócuos, porque têm que ser
movimentados pelo pensamento, assim como não basta ver um ponto num livro para
riscá-lo sem o devido conhecimento, e sem as devidas consequências.
Para um ponto riscado,
além da Pemba, podem ser usadas outras substâncias, dependendo do trabalho a
realizar, como a marafa (pinga ou cachaça), fundanga (pólvora) etc. Também é
utilizado somente o gesto, sem matéria adicional, na intenção
pretendida.
Muitos dos símbolos
sagrados são do conhecimento comum, como a Cruz, a Estrela de David ou de seis
pontas, que os Umbandistas reconhecem como a estrela do equilíbrio, na força da
justiça de Deus incorporada no Orixá Xangô, entre outros.
Outros desses símbolos
mágicos, activados no plano material, são desconhecidos e ainda carecem de
classificação. No seio da comunidade Umbandista, as divergências de opiniões
mantêm discussão prolongada sobre este tema. Vários dirigentes e autores, sem
consenso na sua abordagem, diferem na leitura desses mesmos símbolos,
catalogando e fazendo triagens próprias. Outrossim, a reprodução de símbolos e
grafias idênticas encontram-se em diversas casas, países, até mesmo religiões.
Certo é que, na transversalidade da Umbanda, se reconhecem símbolos riscados
indicando mistérios que são propriedade ou capacidade de determinada entidade.
Será ponderado não admitir conhecimento absoluto sobre o tema, também na
perspectiva de uma aprendizagem contínua...
"Usem bem os símbolos. Usem-nos mais
e mais, e descobrir-se-ão num estágio onde já não precisarão deles. A mente
humana consegue alcançar qualquer ponto do Universo
imediatamente."
Mikao
Usui
*pemba
– espécie de pequeno giz calcário em formato oval fabricado com diversos elementos.
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Na sua origem, o Homem utilizou
a escrita e o desenho como meio de expressão e de comunicação para consigo e com
os seus semelhantes. Actos de admiração, valentia, luta, transformação, caça,
louvação... Todos estes aspectos o Homem transformava em algo visível para que
pudesse cultuar seus actos ou cultuar os seus Deuses. Através deste tipo de representação, trocava mensagens,
passava ideias e transmitia os seus desejos, as suas necessidades e os seus
temores.
A origem da escrita surgiu assim
no início da nossa caminhada – a pré-história.
Ao longo dos tempos, a escrita foi-se desenvolvendo e
transformando mediante o crescimento de cada povo, de cada ser. A escrita
manteve a sua forma de meio de comunicação e expressão de conhecimento ao longo
dos séculos, pois nos seus inícios a escrita teve uma conexão com o mágico, o
espiritual, com os Deuses e com o Divino. A
escrita usada pelos sírios, hebreus e persas, surgiu ligada
às necessidades de contabilização dos seus templos. Era uma
escrita ideográfica, na qual o objecto
representado expressava uma ideia. Os sumérios e mais tarde, os babilónicos e os
assírios fizeram uso extensivo da escrita cuneiforme ( foi desenvolvida pelos sumérios e é a designação
geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objectos em formato
de cunha. Fonte: Wikipédia).
Mais tarde, os sacerdotes e escribas começaram a
utilizar uma escrita convencional, que não tinha nenhuma relação com o objecto
representado. As convenções eram conhecidas pelos encarregados da linguagem
culta, que procuraram representar os sons da fala humana, isto é,
cada sinal representando um som. Surgia assim a escrita fonética, que pelo menos no
segundo milénio a.C., já era utilizada nos registos de textos religiosos e
rituais mágicos.
A civilização Egípcia teve um grande poder na ligação
da escrita com os Deuses e com os seus rituais. Os faraós eram considerados
Deuses vivos. Acreditava-se que estes governantes eram filhos directos do
Deus Osíris,
portanto agiam como intermediários entre os Deuses e a população Egípcia. Ainda
em vida, o Faraó começava a construir a sua pirâmide, devendo preparar o túmulo
para o seu corpo. Este povo, acreditando na vida após a morte, utilizava a
pirâmide para guardar, em segurança, o corpo mumificado do Faraó e os seus
tesouros. No sarcófago era colocado também o livro dos mortos, onde constavam
todas as acções positivas que o Faraó fez em vida. Esta espécie de biografia era
importante, pois os Egípcios acreditavam que Osíris (Deus dos mortos) iria
utilizá-la no seu julgamento final. A
escrita foi, neste e noutros
aspectos, de importância fundamental para este povo, permitindo a
divulgação de ideias e uma comunicação elaborada e eficaz. Existiam duas
formas principais de escrita: as escritas demóticas (mais simplificadas e usadas
para assuntos do quotidiano) e a hieroglífica (mais complexa e formada por
desenhos e símbolos). As outras formas de escrita gravavam
textos mais vulgares; os hieróglifos, tais como as diferentes esculturas e
monumentos, aspiravam à eternidade. Os templos, as colunas e os obeliscos
Egípcios, são livros abertos para quem os saiba ler. A Escrita Hieroglífica deriva da composição de duas
palavras gregas – hiero «sagrado», e glyfus «escrita», traduzindo-se livremente
como “inscrição sagrada”. Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos
cargos, e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais "sagrados".
Esta escrita constitui, provavelmente, o mais antigo sistema organizado de
escrita no mundo, e era vocacionada, principalmente, para inscrições formais nas
paredes de templos e túmulos.
Outra civilização
que utilizava a escrita hieroglífica era a civilização Maia.
Além
de constituir uma forma de comunicação entre os Maias, a escrita também tinha um
vínculo religioso. Estes acreditavam que a escrita era um presente dos deuses e,
por isso, deveria ser ensinada a uma parcela privilegiada da população. De um
modo geral, utilizavam diferentes materiais para o registo de alguma informação,
tais como pedras, madeira, papel e cerâmica. O sistema de escrita Maia
(geralmente chamada hieroglífica por uma vaga semelhança com a escrita do antigo
Egipto, com o qual não se relaciona) era uma combinação de símbolos fonéticos e
ideogramas.
Outro ponto fundamental demonstrativo da importância
da escrita é a história do povo Hebreu na qual os Dez
Mandamentos ou o Decálogo, nome dado ao conjunto
de leis que, segundo
a Bíblia, teriam sido
originalmente escritas por Deus em tábuas de pedra e entregues ao
profeta Moisés (as Tábuas da
Lei). Foram várias as civilizações em que, ao longo da sua história, a
escrita representou um papel importante no seu crescimento e principalmente como
meio de ligação ao Divino.
A escrita sagrada dos Druidas – a escrita Rúnica -
não
se sabe exactamente como surgiu ou como foi criada; no entanto, existem registos
de descobertas arqueológicas que datam de 1.300 a.C. As descobertas que mais se
destacaram abrangem um período que se estende de 200 a.C até o final da Idade
Média, desde a Islândia até a Roménia, do Báltico ao Mediterrâneo.
Os Druidas dominavam
quase todas as áreas do conhecimento humano. Cultivavam a música, a poesia,
tinham notáveis conhecimentos de medicina natural, de fitoterapia, de
agricultura e astronomia, e possuíam um avançado sistema filosófico muito
semelhante ao dos neoplatônicos. O povo celta tinha uma tradição eminentemente
oral, não fazendo uso da escrita para transmitir seus conhecimentos
fundamentais, embora possuíssem a escrita Rúnica. As Runas eram
identificadas como símbolos sagrados gravados ou talhados em metal, osso, pedra
e couro. Mesmo não
usando a escrita para gravar seus conhecimentos, eles possuíam suficiente
sabedoria a ponto de influenciarem outros povos e assim marcar profundamente a
literatura da época, criando uma espécie de aura de mistério e misticismo que
perdura até hoje.
Também devido a esse facto as Runas -
consistindo em símbolos com palavras que os denominam, e sons
equivalentes – passaram a ser utilizadas para propósitos mágicos, em jeito de
codificação de evocações magísticas, conhecidas apenas por alguns. As
combinações alfanuméricas, devidamente utilizadas, serviam diversos trabalhos,
das curas às maldições. Dentro da perspectiva mitológico/sagrada, o surgimento
das Runas é atribuído à Odin, a divindade máxima do panteão
nórdico. À semelhança de como muitos xamãs ainda fazem nos dias de hoje, Odin
submeteu-se a uma experiência de "retorno da morte", para alcançar uma espécie
de "iluminação". Este estado de transcendência (por vezes conquistado por acaso
em acidentes ou doenças que conduzem o indivíduo ao um limite da sua
existência), na maioria das práticas xamânicas, rituais, transes profundos, ou
danças sagradas é conduzido de forma categórica. Eram utilizadas nos processos oraculares, às práticas
talismânicas e à manipulação de forças naturais e sobrenaturais. São inúmeros os
registos arqueológicos de Runas cravadas em armas, batentes de portas e chifres
utilizados como cálices, entre tantos outros objectos, o que confirma a fé dos
povos setentrionais na protecção que estes símbolos ofereciam. Lendas e
testemunhos históricos dos primeiros romanos em terras nórdicas revelam o uso
destes vinte e quatro símbolos, na predição do futuro e nas tentativas, nem
sempre felizes, de alterá-lo.
Outro método que
utiliza a escrita e os símbolos como pontos magísticos, com origem no Oriente, é
o Reiki. Segundo os ensinamentos dos mestres, o Homem mantinha os seus
canais de circulação de energia intactos, e os seus instintos básicos de
sobrevivência de forma genuína, o que gerava um estado de felicidade e harmonia
pleno. Com o desenvolvimento, fomos desligando a nossa ligação às origens e
ficámos individualistas, enfraquecendo assim os canais de ligação com o Cosmo.
Os símbolos do Reiki, em unificação, correspondendo aos cinco níveis da mente,
permitiriam alcançar o caminho da iluminação, conhecido pelos budistas, por
Nirvana. O uso original desses yantras (símbolos) não foi vocacionado
originalmente para a cura material, mas para conduzir à iluminação da ajuda ao
próximo. No entanto, associados esses símbolos a mantras (preces) e a mudras (na
mimetização dos símbolos) foram descobertas novas potencialidades no que
respeita à canalização de energia.
A
“Escrita Mágica”, de um modo geral, povoou desde tempos imemoriais praticamente
todas as civilizações, mais ou menos eruditas. Este facto levou também a que
alguns desses símbolos perdurassem até aos dias de hoje, sendo mesmo utilizados
de forma corrente...
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