terça-feira, 31 de julho de 2012

PONTO RISCADO

O ponto riscado possui grande significado na liturgia Umbandista. O seu significado expande-se além das suas propriedades magísticas, na sua consagração há muito como “escrita mágica sagrada simbólica” (Saraceni, R.)

Os pontos riscados, como símbolos magísticos, podem também evocar sinais expressos numa representação orientada para um determinado propósito ou para a própria trajectória humana, sendo muitas vezes usada a pemba*, pelos guias, por para poder riscar os seus pontos ou símbolos espirituais. São espaços cuja função é dada e orientada pela entidade. É também através do ponto riscado que os Caboclos, Pretos-Velhos ou Exus contam a sua história, a sua origem e passagens do mundo material e astral, e também no qual manifestam a sua identidade, diferenciada das demais, sendo o próprio estandarte da entidade.

Compreendendo-o deste modo, o ponto riscado é um dos mais vigorosos meios magísticos utilizados na Umbanda, consistindo na sua base de um conjunto de símbolos feitos com pemba e agrupados de forma a movimentar energias e a criar campos de forças, ou como base de sustentação de alguns trabalhos. A variedade de funções que é sua propriedade é vasta; os pontos de descarrego tão sobejamente conhecidos; os pontos de firmeza, etc.

Os pontos riscados com Pemba representam uma grafia de projecção astral; de símbolos que se revestem de poder mágico, que a força do Orixá lhes confere. Criam genericamente uma espécie de campo energético, onde o instrumento utilizado pela entidade, a Pemba, manipula as forças da Natureza na afinidade com a entidade, na sua identificação e domínios, na prossecução do efeito desejado (dependendo também claramente do merecimento do consulente e do médium). São códigos vinculados ao mundo espiritual, no campo de acção de determinada falange de entidades. Quando são desenhados sem conhecimento de causa, acabam por “não projectar a sua grafia luminosa” (Lima, C.) e não passam de sinais inócuos, porque têm que ser movimentados pelo pensamento, assim como não basta ver um ponto num livro para riscá-lo sem o devido conhecimento, e sem as devidas consequências.

Para um ponto riscado, além da Pemba, podem ser usadas outras substâncias, dependendo do trabalho a realizar, como a marafa (pinga ou cachaça), fundanga (pólvora) etc. Também é utilizado somente o gesto, sem matéria adicional, na intenção pretendida.

Muitos dos símbolos sagrados são do conhecimento comum, como a Cruz, a Estrela de David ou de seis pontas, que os Umbandistas reconhecem como a estrela do equilíbrio, na força da justiça de Deus incorporada no Orixá Xangô, entre outros.

Outros desses símbolos mágicos, activados no plano material, são desconhecidos e ainda carecem de classificação. No seio da comunidade Umbandista, as divergências de opiniões mantêm discussão prolongada sobre este tema. Vários dirigentes e autores, sem consenso na sua abordagem, diferem na leitura desses mesmos símbolos, catalogando e fazendo triagens próprias. Outrossim, a reprodução de símbolos e grafias idênticas encontram-se em diversas casas, países, até mesmo religiões. Certo é que, na transversalidade da Umbanda, se reconhecem símbolos riscados indicando mistérios que são propriedade ou capacidade de determinada entidade. Será ponderado não admitir conhecimento absoluto sobre o tema, também na perspectiva de uma aprendizagem contínua...

"Usem bem os símbolos. Usem-nos mais e mais, e descobrir-se-ão num estágio onde já não precisarão deles. A mente humana consegue alcançar qualquer ponto do Universo imediatamente."

Mikao Usui


*pemba – espécie de pequeno giz calcário em formato oval fabricado com diversos elementos.
*********************************************************************************

Na sua origem, o Homem utilizou a escrita e o desenho como meio de expressão e de comunicação para consigo e com os seus semelhantes. Actos de admiração, valentia, luta, transformação, caça, louvação... Todos estes aspectos o Homem transformava em algo visível para que pudesse cultuar seus actos ou cultuar os seus Deuses. Através deste tipo de representação, trocava mensagens, passava ideias e transmitia os seus desejos, as suas necessidades e os seus temores.
A origem da escrita surgiu assim no início da nossa caminhada – a pré-história.
Ao longo dos tempos, a escrita foi-se desenvolvendo e transformando mediante o crescimento de cada povo, de cada ser. A escrita manteve a sua forma de meio de comunicação e expressão de conhecimento ao longo dos séculos, pois nos seus inícios a escrita teve uma conexão com o mágico, o espiritual, com os Deuses e com o Divino. A escrita usada pelos sírios, hebreus e persas, surgiu ligada às necessidades de contabilização dos seus templos. Era uma escrita ideográfica, na qual o objecto representado expressava uma ideia. Os sumérios e mais tarde, os babilónicos e os assírios fizeram uso extensivo da escrita cuneiforme ( foi desenvolvida pelos sumérios e é a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objectos em formato de cunha. Fonte: Wikipédia).
Mais tarde, os sacerdotes e escribas começaram a utilizar uma escrita convencional, que não tinha nenhuma relação com o objecto representado. As convenções eram conhecidas pelos encarregados da linguagem culta, que procuraram representar os sons da fala humana, isto é, cada sinal representando um som. Surgia assim a escrita fonética, que pelo menos no segundo milénio a.C., já era utilizada nos registos de textos religiosos e rituais mágicos.
A civilização Egípcia teve um grande poder na ligação da escrita com os Deuses e com os seus rituais. Os faraós eram considerados Deuses vivos. Acreditava-se que estes governantes eram filhos directos do Deus Osíris, portanto agiam como intermediários entre os Deuses e a população Egípcia. Ainda em vida, o Faraó começava a construir a sua pirâmide, devendo preparar o túmulo para o seu corpo. Este povo, acreditando na vida após a morte, utilizava a pirâmide para guardar, em segurança, o corpo mumificado do Faraó e os seus tesouros. No sarcófago era colocado também o livro dos mortos, onde constavam todas as acções positivas que o Faraó fez em vida. Esta espécie de biografia era importante, pois os Egípcios acreditavam que Osíris (Deus dos mortos) iria utilizá-la no seu julgamento final. A escrita foi, neste e noutros aspectos, de importância fundamental para este povo, permitindo a divulgação de ideias e uma comunicação elaborada e eficaz. Existiam duas formas principais de escrita: as escritas demóticas (mais simplificadas e usadas para assuntos do quotidiano) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As outras formas de escrita gravavam textos mais vulgares; os hieróglifos, tais como as diferentes esculturas e monumentos, aspiravam à eternidade. Os templos, as colunas e os obeliscos Egípcios, são livros abertos para quem os saiba ler. A Escrita Hieroglífica deriva da composição de duas palavras gregas – hiero «sagrado», e glyfus «escrita», traduzindo-se livremente como “inscrição sagrada”. Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos cargos, e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais "sagrados". Esta escrita constitui, provavelmente, o mais antigo sistema organizado de escrita no mundo, e era vocacionada, principalmente, para inscrições formais nas paredes de templos e túmulos.
Outra civilização que utilizava a escrita hieroglífica era a civilização Maia. Além de constituir uma forma de comunicação entre os Maias, a escrita também tinha um vínculo religioso. Estes acreditavam que a escrita era um presente dos deuses e, por isso, deveria ser ensinada a uma parcela privilegiada da população. De um modo geral, utilizavam diferentes materiais para o registo de alguma informação, tais como pedras, madeira, papel e cerâmica. O sistema de escrita Maia (geralmente chamada hieroglífica por uma vaga semelhança com a escrita do antigo Egipto, com o qual não se relaciona) era uma combinação de símbolos fonéticos e ideogramas.
Outro ponto fundamental demonstrativo da importância da escrita é a história do povo Hebreu na qual os Dez Mandamentos ou o Decálogo, nome dado ao conjunto de leis que, segundo a Bíblia, teriam sido originalmente escritas por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta Moisés (as Tábuas da Lei). Foram várias as civilizações em que, ao longo da sua história, a escrita representou um papel importante no seu crescimento e principalmente como meio de ligação ao Divino.
A escrita sagrada dos Druidas – a escrita Rúnica - não se sabe exactamente como surgiu ou como foi criada; no entanto, existem registos de descobertas arqueológicas que datam de 1.300 a.C. As descobertas que mais se destacaram abrangem um período que se estende de 200 a.C até o final da Idade Média, desde a Islândia até a Roménia, do Báltico ao Mediterrâneo. Os Druidas dominavam quase todas as áreas do conhecimento humano. Cultivavam a música, a poesia, tinham notáveis conhecimentos de medicina natural, de fitoterapia, de agricultura e astronomia, e possuíam um avançado sistema filosófico muito semelhante ao dos neoplatônicos. O povo celta tinha uma tradição eminentemente oral, não fazendo uso da escrita para transmitir seus conhecimentos fundamentais, embora possuíssem a escrita Rúnica. As Runas eram identificadas como símbolos sagrados gravados ou talhados em metal, osso, pedra e couro. Mesmo não usando a escrita para gravar seus conhecimentos, eles possuíam suficiente sabedoria a ponto de influenciarem outros povos e assim marcar profundamente a literatura da época, criando uma espécie de aura de mistério e misticismo que perdura até hoje.
Também devido a esse facto as Runas - consistindo em símbolos com palavras que os denominam, e sons equivalentes – passaram a ser utilizadas para propósitos mágicos, em jeito de codificação de evocações magísticas, conhecidas apenas por alguns. As combinações alfanuméricas, devidamente utilizadas, serviam diversos trabalhos, das curas às maldições. Dentro da perspectiva mitológico/sagrada, o surgimento das Runas é atribuído à Odin, a divindade máxima do panteão nórdico. À semelhança de como muitos xamãs ainda fazem nos dias de hoje, Odin submeteu-se a uma experiência de "retorno da morte", para alcançar uma espécie de "iluminação". Este estado de transcendência (por vezes conquistado por acaso em acidentes ou doenças que conduzem o indivíduo ao um limite da sua existência), na maioria das práticas xamânicas, rituais, transes profundos, ou danças sagradas é conduzido de forma categórica. Eram utilizadas nos processos oraculares, às práticas talismânicas e à manipulação de forças naturais e sobrenaturais. São inúmeros os registos arqueológicos de Runas cravadas em armas, batentes de portas e chifres utilizados como cálices, entre tantos outros objectos, o que confirma a fé dos povos setentrionais na protecção que estes símbolos ofereciam. Lendas e testemunhos históricos dos primeiros romanos em terras nórdicas revelam o uso destes vinte e quatro símbolos, na predição do futuro e nas tentativas, nem sempre felizes, de alterá-lo.
Outro método que utiliza a escrita e os símbolos como pontos magísticos, com origem no Oriente, é o Reiki. Segundo os ensinamentos dos mestres, o Homem mantinha os seus canais de circulação de energia intactos, e os seus instintos básicos de sobrevivência de forma genuína, o que gerava um estado de felicidade e harmonia pleno. Com o desenvolvimento, fomos desligando a nossa ligação às origens e ficámos individualistas, enfraquecendo assim os canais de ligação com o Cosmo. Os símbolos do Reiki, em unificação, correspondendo aos cinco níveis da mente, permitiriam alcançar o caminho da iluminação, conhecido pelos budistas, por Nirvana. O uso original desses yantras (símbolos) não foi vocacionado originalmente para a cura material, mas para conduzir à iluminação da ajuda ao próximo. No entanto, associados esses símbolos a mantras (preces) e a mudras (na mimetização dos símbolos) foram descobertas novas potencialidades no que respeita à canalização de energia.
A “Escrita Mágica”, de um modo geral, povoou desde tempos imemoriais praticamente todas as civilizações, mais ou menos eruditas. Este facto levou também a que alguns desses símbolos perdurassem até aos dias de hoje, sendo mesmo utilizados de forma corrente...
Vitorino Camelo e Frederico Castro - A.T.U.P.O

Nenhum comentário:

Postar um comentário