A verdadeira pajelança é restrita a uma minoria que ostenta os segredos e poções mágicas que rejuvenescem, curam, matam, provocam viagens astrais e outras grandes iniciações. Atualmente, existem poucos pajés desse tipo no Brasil. A presença da mulher é vedada.
Já a pajelança paralela (segunda geração) envolve as várias formas de curandeirismo popular - principalmente as rezadeiras e benzedeiras, que trazem no sangue a eugenia nativa, além de estar representadas em alguns rituais da Umbanda.
Finalmente, a pajelança afim (terceira geração) engloba o curandeirismo popular originado da pajelança mater, porém com atuação mais aberta que a anterior. Apresenta influências visíveis de outras magias, seitas, misturando-se a -se a outras culturas folclóricas e crendices de povos diversos. É a pajelança com maior influência no Brasil, e suas benzedeiras, que utilizam ervas e rezas para tirar o "quebranto" , muitas vezes conseguem imbuir-se de dons que são inerentes aos pajés. Já as rezadeiras, embora sejam incluídas nesse grupo, são originárias do Nordeste, submetendo-se assim a uma influência maior do catolicismo.
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UMA PAJÉ BRASILEIRA
Primeira Pajé Brasileira
Ela conta: Precisei provar da vida de branco para entender a importância de minha cultura.
A índia acreana Raimunda Putani Yawanawá, 27 anos, é a primeira Pajé brasileira. Para isso, primeiro precisou vencer a resistência dos sábios da tribo, que não admitiam mulheres na função de Pajé.
Depois enfrentou dura prova de resistência -- ficar um ano isolada na mata, em contato com a natureza, comendo só alimentos crus, sem tomar água, mas apenas uma bebida especial feita de milho. Fez isso na companhia da irmã, Katia Yawanawá, 26 anos, tendo como guias e mestres os velhos Pajés Yawarami e Tata.
A gente tinha uma insatisfação que não passava. Fomos conversando sobre a força dos nossos usos e costumes. Deu muita vontade de aprender mais, para poder também ensinar um dia. A vida tem que ter um sentido, uma seqüência, explica Raimunda, que só pode falar o português para se comunicar com os de fora da tribo.
Um ano depois, as irmãs estavam prontas. Venceram o desafio, fizeram o juramento ao Rare, a planta sagrada dos yawanawá. Isso é muita responsabilidade, diz Raimunda.
Agora são Pajés, guias e conselheiras espirituais da tribo, guardiãs dos usos, costumes e da sabedoria de seu povo.
Hoje eu sei quem eu sou. Estou em paz. Minha língua, minha cultura são muito ricas e bonitas. Elas são nossa identidade. Sei da beleza e da força da natureza. Sinto a força do pensamento. Quando ele é firme, não existe nada impossível, nem nada superior ou inferior. Somos iguais nesta passagem pela vida. Cada um com sua função e o poder de seu querer, que deve ser usado sempre para o bem de todos, ensina a Pajé Raimunda, que já foi casada e é mãe de dois filhos.
Daqui do meu mato eu trabalho muito pela Xawá (luz) para o mundo todo. A gente precisa limpar o coração e redescobrir o amor, a humildade, a coragem de defender a igualdade entre todos e a vida com tudo de bom e bonito que ela tem.
A Pajé Raimunda foi uma das cinco personalidades homenageadas este ano pelo Senado por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Para ler mais sobre o tema: altino.blogspot.com/2006/04/primeira-paj-brasileira.html
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Leia a entrevista a seguir.
UMA LIÇÃO DE SÁBIA HUMILDADE
Qual é a mensagem do uni (ayahuasca), de Deus, para nós nesse começo de milênio?
Raimunda: O uni é a porta do conhecimento. A gente bebe ele para obter o aprendizado, para abrir a nossa mente. A gente busca ele com força, seriedade e pureza e ele também nos mostra a porta, nos traz a luz. A mensagem ele nos envia é para que todos nós possamos viver em paz, mais desligados das coisas materiais e buscando mais o conhecimento. Olharmos em nossos corações e abrirmos os nossos pensamentos. Olharmos para Ele com outros olhos, com outro coração, o espiritual. Se a gente abrir ele verdadeiramente, ele também nos traz a verdadeira pureza e transparência no nosso pensamento.
Qual foi o momento mais difícil que você viveu?
Raimunda: Foi viver isolamente. Ficamos um ano, precisamente nove meses, apenas na companhia do meu pai e do pajé Tata. A gente começou tomar rapé e ele me dava muito porre. Uma vez cheguei a cair, a desmaiar mesmo. A pressão dele dá muita sede, causa falta de fôlego, corpo adormece completamente e o coração fica a mil por hora. A gente não podia tomar água.
Quando decidiram ser pajés, como a tribo reagiu?
Raimunda: Não existe na história do nosso povo que uma mulher tenha mexido na planta sagrada, o Rare. Nunca nenhuma mulher foi à luta para ser pajé. Quem sempre era pajé eram os homens. A mulher é sempre a dona de casa, faz a caiçuma, cria os filhos, está sempre do lado do esposo. Pra gente ir para essa outra parte da nossa cultura, do nosso conhecimento, foi tipo quebrar um tabu. Por isso que levamos ao pé da letra o cumprimento da dieta. Muitos, quando fomos fazer a dieta, disseram que nós não aguentaríamos com o argumento de que mulheres têm muito desejos. Está com um ano e dois meses que não temos relação com homem.
Vocês duas são solteiras?
Raimunda: A Kátia é casada.
O marido reclamou? Ele compreende?
Kátia: Ele compreende, sim. Antes de tomar a decisão de entrar na dieta a gente já tinha conversado. O que eu coloquei é que eu queria aprender, buscar o que ficou para trás, a nossa cultura, o que pertence ao nosso povo. Eu não poderia deixar de fazer a minha dieta por eu ser casada. Nem todas as vezes a gente tem a certeza de que vai viver o resto da vida com a mesma pessoa. Só Deus pode marcar qual é o nosso destino.
Vocês foram as primeiras mulheres do povo yawanawá a ter contato com o Rare, a planta sagrada. O que é o Rare? É Deus?
Kátia: O Rare é uma planta muito sagrada. A partir do momento que a gente come, a gente já planta ele dentro da gente. A partir desse momento, a gente já passa a ter o conhecimento e o poder do Rare. E o nosso espírito passa a ter o poder de curar uma doença, de fazer o que for. Podemos tocar numa pessoa e dizer para ela que vai ficar boa ou que já está boa. As nossas palavras são muito sagradas. Ele é uma planta, mas é espírito. Ele também tem uma mulher. Sempre é uma mulher tanto nele quanto na jibóia. Nos nossos sonhos é sempre uma mulher que traz o conhecimento. Ele é muito poderoso. A gente não pode passar perto dele falando alguma coisa. Tem que passar devagar, de cabeça baixa. Se acontecer de tocar, tem que passar dois meses fazendo a mesma dieta que nós estamos fazendo. Ele, para nós, é como se fosse Deus. Acreditamos no que fazemos, no que sai da nossa boca. Até ao pensarmos em alguma coisa, a gente já fez, já aconteceu. Basta a gente pensar com o coração. Ele também previne o que vai acontecer. Se uma pessoa chegar com pressentimento ruim, o nosso corpo já sente. Quem rebate isso aí é o rapé e o uni.
Raimunda: Nós não somos dignos de falar o nome do Rare. O nosso conhecimento não tem fim. Nós somos umas crianças. Pisamos no primeiro degrau. Quem é digno de falar dele são os nossos velhos, os nossos pajés. Nós somos crianças. Estamos numa escola. Não somos dignas de falar dele porque ele é muito grande. Ele é um espírito. O divino o deixou na terra para ele poder nos guiar, para poder olhar para ele e pedir que ele nos livre das doenças e dos pensamentos ruins. Chegamos aos pés dele e pedimos, suplicamos: "Me dá isso, me livra disso". Quando a gente come da planta e vai para o nosso destino, a gente planta ele dentro do pensamento e dentro do coração. E quando a gente planta ele dentro da gente, a gente não é mais uma pessoa vazia. A gente é uma pessoa que já tem uma luz. Ele não é dado para qualquer pessoa porque ele tem poder. O Rare tem o lado bom e lado ruim. Nós estamos usando o lado bom. O conhecimento dele é tão grande que não existe fronteira. A prova disso é quando o nosso irmão Joaquim e a Laura disseram que nosso nome tinha sido lançado ao prêmio. Então a gente foi ao Rare e comeu e dissemos que o nawá, o branco, estava falando do nome dele através de nós. Então dissemos que queríamos levar o nome dele, a mensagem dele e pedimos para nos clareiar. Se for pra gente levar a mensagem divina, a luz, a gente vai chegar lá, porque sabemos que teu conhecimento não tem fronteira. Não tem nada impossível. Então mostra! E pedimos para quebrantar o coração de quem estava chamando, de quem está falando do teu nome e faz a gente ir lá, para levar a tua mensagem, para saber que você tem poder e tem palavra aqui na Terra, que você tem luz e que sua luz é boa. Não deixe que essa sua luz fique só com a gente, mas que a gente possa levar para os nossos parentes brancos, que eles também precisam da luz. É divino você? Então nos leve lá. E é por isso que a gente está aqui. Fomos enviadas pelo Rare para trazer a mensagem dele. Ele é muito grande.
Como você reagiu à notícia do prêmio?
Raimunda: Na verdade quem está recebendo o prêmio é o povo yawanawá. Somos duas mensageiras. Viemos trazer a mensagem não apenas do nosso povo, mas de todo os povos indígenas. para nós foi motivo de muita alegria, de muito respeito. O nosso povo agradece por vocês olharem pra gente com respeito, pois somos humanos, que temos pensamentos, corações, as coisas boas. Isso mostra que somos filhos do mesmo criador. Na verdade nós somos todos irmãos. Existe apenas a diferença física dos olhos, da cor, mas na verdade no coração e no pensamento somos iguais. Quando a gente vai para outra dimensão, vamos no mesmo caminho e lá vamos nos encontrar da mesma forma.
Algo mais a acrescentar?
Raimunda: Quero lembrar do Biraci, do Fernando Luiz, do Luizinho, do Aldaísio. Nós todos nos unimos para poder pisar por cima das coisas ruins, para a gente poder mostrar essa luz divina que todo o mundo almeja. Eles também estão na luta. Estão lá na mata, tomando ayahuasca e rapé e pedindo por nós. Agradecer também ao Rare por todos vocês.
Kátia: Esquecemos de um detalhe: para chegar aonde chegamos carregamos muita humildade em nossos corações. Acho que é um exemplo que podemos dar pro mundo, pro brasil, deixando a mensagem de que tudo a gente consegue com sofrimento e humildade em nossos corações. E que isso é necessário para o engrandecimento do espírito. E também queremos pedir para trazer em nossos pensamentos coisas boas para o mundo. Quando estamos lá no mato, nós sopramos para cima, para o céu, para o sol que ilumina o mundo inteiro, e pedimos paz para esse mundo que é de muita violência e sofrimento.
Raimunda: a gente agradece ao nosso Criador e aos nossos velhos, o pajé, meu pai, o Raimundo Luiz, que é uma grande pessoa que está nos ajudando a subir nessa escada. Uma pessoa muito grande também para a gente é o nosso irmão Joaquim e a Laura. Eles nos encorajaram muito. Por ter vivido um tempo fora, ele nos disse que mulher também pode ser pajé. Nos inspiramos muito na Laura, que é uma mulher muito corajosa e que luta ao lado do Joaquim, trabalhando. Ela é amiga, cunhada, mãe, companheira. A gente também tem outra mãe que é a nossa irmã Mariazinha. São pessoas que ajudaram muito a gente. Nós estamos lá no fim da mata, comendo nosso peixinho, nossa bananinha e tem vocês que pensam na gente, que respeita a gente.
Agradeço a voces.
Texto de Altino Machado
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UMA PAJÉ BRASILEIRA
Primeira Pajé Brasileira
Ela conta: Precisei provar da vida de branco para entender a importância de minha cultura.
A índia acreana Raimunda Putani Yawanawá, 27 anos, é a primeira Pajé brasileira. Para isso, primeiro precisou vencer a resistência dos sábios da tribo, que não admitiam mulheres na função de Pajé.
Depois enfrentou dura prova de resistência -- ficar um ano isolada na mata, em contato com a natureza, comendo só alimentos crus, sem tomar água, mas apenas uma bebida especial feita de milho. Fez isso na companhia da irmã, Katia Yawanawá, 26 anos, tendo como guias e mestres os velhos Pajés Yawarami e Tata.
A gente tinha uma insatisfação que não passava. Fomos conversando sobre a força dos nossos usos e costumes. Deu muita vontade de aprender mais, para poder também ensinar um dia. A vida tem que ter um sentido, uma seqüência, explica Raimunda, que só pode falar o português para se comunicar com os de fora da tribo.
Um ano depois, as irmãs estavam prontas. Venceram o desafio, fizeram o juramento ao Rare, a planta sagrada dos yawanawá. Isso é muita responsabilidade, diz Raimunda.
Agora são Pajés, guias e conselheiras espirituais da tribo, guardiãs dos usos, costumes e da sabedoria de seu povo.
Hoje eu sei quem eu sou. Estou em paz. Minha língua, minha cultura são muito ricas e bonitas. Elas são nossa identidade. Sei da beleza e da força da natureza. Sinto a força do pensamento. Quando ele é firme, não existe nada impossível, nem nada superior ou inferior. Somos iguais nesta passagem pela vida. Cada um com sua função e o poder de seu querer, que deve ser usado sempre para o bem de todos, ensina a Pajé Raimunda, que já foi casada e é mãe de dois filhos.
Daqui do meu mato eu trabalho muito pela Xawá (luz) para o mundo todo. A gente precisa limpar o coração e redescobrir o amor, a humildade, a coragem de defender a igualdade entre todos e a vida com tudo de bom e bonito que ela tem.
A Pajé Raimunda foi uma das cinco personalidades homenageadas este ano pelo Senado por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Para ler mais sobre o tema: altino.blogspot.com/2006/04/primeira-paj-brasileira.html
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Leia a entrevista a seguir.
UMA LIÇÃO DE SÁBIA HUMILDADE
Qual é a mensagem do uni (ayahuasca), de Deus, para nós nesse começo de milênio?
Raimunda: O uni é a porta do conhecimento. A gente bebe ele para obter o aprendizado, para abrir a nossa mente. A gente busca ele com força, seriedade e pureza e ele também nos mostra a porta, nos traz a luz. A mensagem ele nos envia é para que todos nós possamos viver em paz, mais desligados das coisas materiais e buscando mais o conhecimento. Olharmos em nossos corações e abrirmos os nossos pensamentos. Olharmos para Ele com outros olhos, com outro coração, o espiritual. Se a gente abrir ele verdadeiramente, ele também nos traz a verdadeira pureza e transparência no nosso pensamento.
Qual foi o momento mais difícil que você viveu?
Raimunda: Foi viver isolamente. Ficamos um ano, precisamente nove meses, apenas na companhia do meu pai e do pajé Tata. A gente começou tomar rapé e ele me dava muito porre. Uma vez cheguei a cair, a desmaiar mesmo. A pressão dele dá muita sede, causa falta de fôlego, corpo adormece completamente e o coração fica a mil por hora. A gente não podia tomar água.
Quando decidiram ser pajés, como a tribo reagiu?
Raimunda: Não existe na história do nosso povo que uma mulher tenha mexido na planta sagrada, o Rare. Nunca nenhuma mulher foi à luta para ser pajé. Quem sempre era pajé eram os homens. A mulher é sempre a dona de casa, faz a caiçuma, cria os filhos, está sempre do lado do esposo. Pra gente ir para essa outra parte da nossa cultura, do nosso conhecimento, foi tipo quebrar um tabu. Por isso que levamos ao pé da letra o cumprimento da dieta. Muitos, quando fomos fazer a dieta, disseram que nós não aguentaríamos com o argumento de que mulheres têm muito desejos. Está com um ano e dois meses que não temos relação com homem.
Vocês duas são solteiras?
Raimunda: A Kátia é casada.
O marido reclamou? Ele compreende?
Kátia: Ele compreende, sim. Antes de tomar a decisão de entrar na dieta a gente já tinha conversado. O que eu coloquei é que eu queria aprender, buscar o que ficou para trás, a nossa cultura, o que pertence ao nosso povo. Eu não poderia deixar de fazer a minha dieta por eu ser casada. Nem todas as vezes a gente tem a certeza de que vai viver o resto da vida com a mesma pessoa. Só Deus pode marcar qual é o nosso destino.
Vocês foram as primeiras mulheres do povo yawanawá a ter contato com o Rare, a planta sagrada. O que é o Rare? É Deus?
Kátia: O Rare é uma planta muito sagrada. A partir do momento que a gente come, a gente já planta ele dentro da gente. A partir desse momento, a gente já passa a ter o conhecimento e o poder do Rare. E o nosso espírito passa a ter o poder de curar uma doença, de fazer o que for. Podemos tocar numa pessoa e dizer para ela que vai ficar boa ou que já está boa. As nossas palavras são muito sagradas. Ele é uma planta, mas é espírito. Ele também tem uma mulher. Sempre é uma mulher tanto nele quanto na jibóia. Nos nossos sonhos é sempre uma mulher que traz o conhecimento. Ele é muito poderoso. A gente não pode passar perto dele falando alguma coisa. Tem que passar devagar, de cabeça baixa. Se acontecer de tocar, tem que passar dois meses fazendo a mesma dieta que nós estamos fazendo. Ele, para nós, é como se fosse Deus. Acreditamos no que fazemos, no que sai da nossa boca. Até ao pensarmos em alguma coisa, a gente já fez, já aconteceu. Basta a gente pensar com o coração. Ele também previne o que vai acontecer. Se uma pessoa chegar com pressentimento ruim, o nosso corpo já sente. Quem rebate isso aí é o rapé e o uni.
Raimunda: Nós não somos dignos de falar o nome do Rare. O nosso conhecimento não tem fim. Nós somos umas crianças. Pisamos no primeiro degrau. Quem é digno de falar dele são os nossos velhos, os nossos pajés. Nós somos crianças. Estamos numa escola. Não somos dignas de falar dele porque ele é muito grande. Ele é um espírito. O divino o deixou na terra para ele poder nos guiar, para poder olhar para ele e pedir que ele nos livre das doenças e dos pensamentos ruins. Chegamos aos pés dele e pedimos, suplicamos: "Me dá isso, me livra disso". Quando a gente come da planta e vai para o nosso destino, a gente planta ele dentro do pensamento e dentro do coração. E quando a gente planta ele dentro da gente, a gente não é mais uma pessoa vazia. A gente é uma pessoa que já tem uma luz. Ele não é dado para qualquer pessoa porque ele tem poder. O Rare tem o lado bom e lado ruim. Nós estamos usando o lado bom. O conhecimento dele é tão grande que não existe fronteira. A prova disso é quando o nosso irmão Joaquim e a Laura disseram que nosso nome tinha sido lançado ao prêmio. Então a gente foi ao Rare e comeu e dissemos que o nawá, o branco, estava falando do nome dele através de nós. Então dissemos que queríamos levar o nome dele, a mensagem dele e pedimos para nos clareiar. Se for pra gente levar a mensagem divina, a luz, a gente vai chegar lá, porque sabemos que teu conhecimento não tem fronteira. Não tem nada impossível. Então mostra! E pedimos para quebrantar o coração de quem estava chamando, de quem está falando do teu nome e faz a gente ir lá, para levar a tua mensagem, para saber que você tem poder e tem palavra aqui na Terra, que você tem luz e que sua luz é boa. Não deixe que essa sua luz fique só com a gente, mas que a gente possa levar para os nossos parentes brancos, que eles também precisam da luz. É divino você? Então nos leve lá. E é por isso que a gente está aqui. Fomos enviadas pelo Rare para trazer a mensagem dele. Ele é muito grande.
Como você reagiu à notícia do prêmio?
Raimunda: Na verdade quem está recebendo o prêmio é o povo yawanawá. Somos duas mensageiras. Viemos trazer a mensagem não apenas do nosso povo, mas de todo os povos indígenas. para nós foi motivo de muita alegria, de muito respeito. O nosso povo agradece por vocês olharem pra gente com respeito, pois somos humanos, que temos pensamentos, corações, as coisas boas. Isso mostra que somos filhos do mesmo criador. Na verdade nós somos todos irmãos. Existe apenas a diferença física dos olhos, da cor, mas na verdade no coração e no pensamento somos iguais. Quando a gente vai para outra dimensão, vamos no mesmo caminho e lá vamos nos encontrar da mesma forma.
Algo mais a acrescentar?
Raimunda: Quero lembrar do Biraci, do Fernando Luiz, do Luizinho, do Aldaísio. Nós todos nos unimos para poder pisar por cima das coisas ruins, para a gente poder mostrar essa luz divina que todo o mundo almeja. Eles também estão na luta. Estão lá na mata, tomando ayahuasca e rapé e pedindo por nós. Agradecer também ao Rare por todos vocês.
Kátia: Esquecemos de um detalhe: para chegar aonde chegamos carregamos muita humildade em nossos corações. Acho que é um exemplo que podemos dar pro mundo, pro brasil, deixando a mensagem de que tudo a gente consegue com sofrimento e humildade em nossos corações. E que isso é necessário para o engrandecimento do espírito. E também queremos pedir para trazer em nossos pensamentos coisas boas para o mundo. Quando estamos lá no mato, nós sopramos para cima, para o céu, para o sol que ilumina o mundo inteiro, e pedimos paz para esse mundo que é de muita violência e sofrimento.
Raimunda: a gente agradece ao nosso Criador e aos nossos velhos, o pajé, meu pai, o Raimundo Luiz, que é uma grande pessoa que está nos ajudando a subir nessa escada. Uma pessoa muito grande também para a gente é o nosso irmão Joaquim e a Laura. Eles nos encorajaram muito. Por ter vivido um tempo fora, ele nos disse que mulher também pode ser pajé. Nos inspiramos muito na Laura, que é uma mulher muito corajosa e que luta ao lado do Joaquim, trabalhando. Ela é amiga, cunhada, mãe, companheira. A gente também tem outra mãe que é a nossa irmã Mariazinha. São pessoas que ajudaram muito a gente. Nós estamos lá no fim da mata, comendo nosso peixinho, nossa bananinha e tem vocês que pensam na gente, que respeita a gente.
Agradeço a voces.
Texto de Altino Machado
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