Bruxaria e Feitiçaria no Brasil. Mitos e lendas.
De Feiticeiro à Bruxo
Vamos definir de forma clara a diferença entre a bruxaria e a feitiçaria. Um bruxo é uma pessoa que vive sob os preceitos da Arte dos Sábios. Já um feiticeiro nada mais é do que uma pessoa que faz feitiços, independente de ser bruxo ou não. Mas dificilmente uma pessoa se mantém apenas como um feiticeiro, na maioria das vezes acaba se tornando um bruxo. Tomemos um exemplo apenas para ilustrar minha linha de pensamento: suponhamos que uma pessoa sem vínculo religioso nenhum tropeça em um dos livros de Scott Cunningham, e descobre a magia rúnica, uma categoria de feitiço muito apreciada dentro do ramo moderno da Arte devido sua praticidade, eficácia e acessibilidade. Ele escolhe o tema, motivo ou razão para o feitiço, escolhe a forma que será aplicado. Após fazer o feitiço, em alguns dias ou mesmo em algumas horas, o fim pretendido é alcançado. Ele com certeza realizará mais testes, e quando tiver a certeza que os resultados obtidos foram em razão de seus feitiços, com certeza seu interesse sobre o tema irá crescer. Ele procurará por mais runas, como as saxônicas do alfabeto Futhork, ou tradicionais runas nórdicas do futhark, sua relação com os Deuses do panteão nórdico, sua interpretação oracular, passará a fazer suas leituras e trabalhos de acordo com os dias tradicionais da semana associados aos principais Deuses nórdicos, e quando menos perceber estará fazendo rituais devocionais aos Deuses para alcançar mais rápido seus objetivos. Concluímos com isso que esta pessoa se tornou um bruxo.
São Cipriano
O Brasil é um país com práticas bastante feiticeiras, em sua maior parte devido às religiões afro-brasileiras como o Candomblé, Umbanda, Kimbanda e Tambor de Mina. E dentro do mundo da bruxaria brasileira temos muitas lendas e mitos como à do famoso bruxo São Cipriano. Digo que São Cipriano é um mito por que muito do que se diz a respeito dele é incerto. Acredita-se que ele tenha vivido no Continente Africano ou Árabe em meados do Sec. III, e foi enviado pelos pais ao Egito para aprender medicina, astrologia e demais artes esotéricas, isso é o pouco que se pode afirmar sobre ele com alguma certeza.
Em muitas lojas de livros esotéricos, e qualquer loja de artigos de religiões afro-brasileiras encontramos seus livros. Mas os livros de São Cipriano são como o vinho, quanto mais antigo melhor, ou seria mais apropriado dizer, menos adulterado. Nos livros atuais menos de 20% do conteúdo é de São Cipriano, sendo preenchidos com satanismo e até feitiços wiccanos. Antigamente diziam haver apenas dois livros dele, sendo o livro capa preta, e o livro capa de aço. Ouvi de vários membros de religiões afro, sobre a existência de um livro negro, contendo mais de 500 páginas do tamanho de um atlas, que guardava todos os segredos da bruxaria, mas até hoje nunca encontrei tal livro. Hoje encontramos com facilidade os seguintes livros: capa preta, capa de aço, capa dourada, capa vermelha, capa vermelha e preta, o livro negro: o legítimo e gigante livro de são Cipriano, e geralmente a única diferença entre eles é a cor e desenho da capa.
A bruxa de Évora
Outra lenda dentro da Arte no Brasil é sobre a bruxa de Évora, que muitas vezes aparece nas histórias de São Cipriano, como sua professora, como sua aluna, ou no fim de sua vida como sua companheira em sua fé na nova religião. Era descrita como uma senhora idosa versada na Arte e na cartomancia, que dominava muito bem o idioma hebraico, latim e também o idioma português. O problema é que não só existiram como existem e vão existir milhares de bruxas de Évora, pois Évora é uma região de Portugal. A bruxa a que se referem nestes contos como “A Bruxa de Évora”, chamava-se Lagarrona. Outro problema, é que não existia idioma português no Sec. III, época em que se acredita que São Cipriano viveu. Não sou bom historiador, mas se me lembro bem, o texto mais antigo de Portugal é do Sec. VI ou VII.
O livro da Bruxa de Évora já foi um item muito procurado dentre os feiticeiros no Brasil.
Bruxaria no Brasil
A cultura brasileira é formada pela influência não só da Europa, mas de imigrantes de praticamente todo o globo, e a Arte em nosso país não poderia ser diferente. Desde o descobrimento (invasão), vieram para nossa terra, pessoas de toda a Europa, e com elas os praticantes da Arte. Então vieram para cá, bruxos e bruxas de Portugal, brujas da Espanha, stregas da Itália, sorcièris da França, e poderia continuar esta lista infinitamente. Uma vasta fonte de ocultismo e esoterismo popular, sincretizado ao catolicismo, e com um toque da espiritualidade africana, molda a mais legítima Bruxaria e Feitiçaria Tradicional Brasileira.
Este ramo da Arte não agrada a todos, eu mesmo faço uso de técnicas européias, mas negá-lo como Bruxaria tradicional, da forma que alguns grupos de reconstrucionismo Celta o fazem não é algo que agradaria muito nossos ancestrais. Hoje temos aí grupos organizados de Bruxaria Tradicional buscando nossa descendência ibérica para justificar a adoração de divindades célticas, mas quem pode dizer que não tem descendência celta, se eles habitaram em praticamente toda a Europa. Os Deuses do velho mundo vieram pra cá com os imigrantes, mas foram ocultados sob a máscara dos santos católicos, devido o temor causado pela fogueira da inquisição, que alcançou até mesmo a nossa linda Ilha de Santa Cruz, Terra de Vera Cruz, hoje chamada de Brasil. E o Deus mais cultuado pelos bruxos e bruxas, finalmente sucumbiu a máscara proposta(imposta) pela igreja católica, a do diabo, criado pela igreja para amedrontar os de pouca coragem, sem personalidade e sem opinião própria(infelizmente a maior parte do povo).
Mas onde vivem então tais bruxos e bruxas hoje em dia? No campo, cidades pequenas do interior, fazendas, ou seja, no meio rural como desde o princípio, na pele da benzedeira, curandeiro, os homens e mulheres sábias de nossa terra, realizando curas, benzimentos e sortilégios, lendo a sorte nas cartas, bacias com água, preparando patuás, evocando espíritos e entidades desconhecidos da bruxaria moderna, e muitos mais.
Hoje a imagem que temos de bruxos e bruxas é bem diferente
da proposta neste ensaio, mas a três ou quatro décadas atrás,
estes eram os verdadeiros bruxos de nossa terra.
Hoje a imagem que temos de bruxos e bruxas é bem diferente
da proposta neste ensaio, mas a três ou quatro décadas atrás,
estes eram os verdadeiros bruxos de nossa terra.
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