domingo, 30 de setembro de 2012

SÃO CIPRIANO - A LENDA FALA QUE SÃO DOIS

A lenda de São Cipriano - O Feiticeiro - confunde-se com um outro célebre Cipriano imortalizado na Igreja Católica, conhecido como Papa Africano. Apesar do abismo histórico que os afasta, as lendas combinam-se e os Ciprianos, muitas vezes, tornam-se um só na cultura popular. É comum encontrarmos fatos e características pessoais atribuídas equivocadamente. Além dos mesmos nomes, os mártires coexistiram, mas em regiões distintas.
Cipriano – O Feiticeiro – é celebrado no dia 2 de Outubro. Foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências ocultas. Após deparar-se com a jovem (Santa) Justina, converteu-se ao catolicismo. Martirizado e canonizado, sua popularidade excedeu a fé cristã devido ao famoso Livro de São Cipriano, um compilado de rituais de magia.
A fantástica trajetória do Feiticeiro e Santo da Antioquia, representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade. São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia; é um símbolo da dualidade da fé humana.
O Feiticeiro
Filho de pais pagãos e muito ricos, nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.
Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.
A Conversão Cristã
Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.
Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela (também convertidos à fé Cristã) concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.
Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações e o Sinal da Cruz.
A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.
Os Fantasmas
Em um capítulo de seu livro, Cipriano narra um episódio ocorrido após sua conversão:
“Numa noite de sexta-feira, caminhava por uma rua deserta quando se deparou com quatorze fantasmas. Essas aparições eram bruxas que imploravam ajuda. Cipriano respondeu-lhes que havia se arrependido de sua vida de feiticeiro, e que havia se tornado temente a Jesus Cristo. Logo depois caiu em sono profundo, e sonhou que a oração do Anjo Custódio o livraria daqueles fantasmas. Ao despertar teve uma breve visão do Anjo. Assim, auxiliado pela oração de São Gregório e do Anjo Custódio, esconjurou e livrou a alma atormentada das bruxas.”
A Morte
As notícias da conversão e das obras cristãs de Cipriano e Justina, chegaram até o imperador Diocleciano que se encontrava na Nicomédia. Assim, logo foram perseguidos, presos e torturados. Frente ao imperador, viram-se forçados a negar a fé cristã. Justina foi chicoteada, e Cipriano açoitado com pentes de ferro. Não cederam.
Irritado com a resistência, Diocleciano ainda lançou Cipriano e Justina numa caldeira fervente de banha e cera. Os mártires não renunciaram, e tampouco transpareciam sofrimento. O feiticeiroAthanasio (que havia sido discípulo de Cipriano) julgou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio lançado por seu ex-mestre. Na tentativa de desafiar Cipriano e elevar a própria moral, Athanasio invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Seu corpo foi dizimado pelo calor em poucos segundos.
Após este fato, o imperador Diocleciano finalmente ordenou a morte de Justina e Cipriano. No dia 26 de Setembro de 304, os mártires e um outro cristão de nome Teotiso, foram decapitados às margens do Rio Galo da Nicomédia. Os corpos ficaram expostos por 6 dias, até que um grupo de cristãos recolheu e os levou para Roma, ficando sob os cuidados de uma senhora chamada Rufina. Já no império de Constantino, os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João Latrão.

O Livro
O famoso Livro de São Cipriano foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida do Santo interfere também em seu livro. Uma parte dos manuscritos foi queimada por ele mesmo. A questão é que não se sabe quando, e por quem os registros foram reunidos e traduzidos do hebraico para o latim, e posteriormente levados para diversas partes do mundo.
No decorrer dos anos, o conteúdo sofreu alterações significativas. Houve uma adaptação de acordo com as necessidades e possibilidades contemporâneas; além da adequação necessária na tradução para os vários idiomas. Esses fatores colocam em dúvida a fidelidade das versões recentes, se comparadas às mais antigas.
Atualmente, não é possível falar do Livro, mas sim dos Livros de São Cipriano. As edições capa preta e capa de aço; ou aquelas intituladas como o autêntico, o verdadeiro, ou o único, enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para campos negativistas e destrutivos da magia.
Num aspecto geral, encontra-se instruções aos religiosos para tratar de uma moléstia, além de cartomancia, esconjurações e exorcismos. A Oração da Cabra Preta, Oração do Anjo Custódio e outras da crença popular também são inclusas (Magnificat, Cruz de São Bento, Oração para Assistir aos Enfermos na Hora da Morte, etc.). Além dos rituais de como obter um pacto com o demônio, como desmanchar um casamento e da caveira iluminada com velas de sebo.
No Brasil, o Livro de São Cipriano é usado largamente nas religiões afro-brasileiras, e se tornou um “almanaque ocultista” de fácil acesso que se dilui na crendice popular. Há ainda os mitos que o cercam: muitos consideram ser pecado possuí-lo ou simplesmente tocá-lo. De qualquer forma, o tema São Cipriano e tudo que o cerca, é um campo de estudo e pesquisa muito interessante para os ocultistas, religiosos e aventureiros.
São Cipriano
O Mago dos Magos, o santo de Deus
Tascius Caecilius Cyprianus, nasceu na cidade de Antioquia.
Antioquia era uma cidade antiga erguida na margem esquerda do rio Orontes, na Turquia. Foi nesta cidade que, quando o Cristianismo era apenas uma pequena seita religiosa, Paulo pregou o seu primeiro sermão numa Sinagoga, e foi também aqui que os seguidores de Jesus foram chamados de Cristãos pela primeira vez.
Historicamente, há quem defenda que São Cipriano Bispo de Cartago, ( Cartago, o coração do grande império fenício que existiu no Norte de Africa e que rivalizou com o império romano pelo controlo do mediterrâneo) e são Cipriano de Antioquia,( de cognome «o feiticeiro», ou «o mago dos magos»), nascido na cidade que existiu na zona entre Turquia e Síria, e que era chama «a mais bela cidade do oriente», são figuras históricas totalmente distintas. Ao contrario, muitas outras fontes afirmam que São Cipriano o Bispo de Cartago, e São Cipriano «o Feiticeiro», se tratam da mesma figura histórica, sendo que por motivos de ocultação da vida pecaminosa de São Cipriano antes da sua conversão, se procurou criar a ideia que o São Cipriano santificado era uma figura totalmente distinta do São Cipriano o bruxo, assim retirando de São Cipriano o Bispo e o Santo, a pesada macula de todos os seus anteriores pecados. São teses históricas, umas mais defensáveis que outras, mas que de qualquer das formas são unânimes em confirmar a existência de São Cipriano. Cremos pessoalmente, que tal como afirmam as mais ilustres obras que versam sobre São Cipriano, que Cipriano o Bispo de Cartago, e Cipriano o Bruxo, são a mesma pessoa.
Quanto a São Cipriano de Antioquia, o bruxo e santo:
Antioquia era a terceira maior cidade do império romano, conhecida pela sua depravação. Nesta metrópole conhecida por “Antioquia, a bela”, ou a “rainha do Oriente”, ( tal era a beleza da arte romana e do luxo oriental que se fundiam num cenário deslumbrante), a população era maioritariamente romano -helénica, e o culto dos deuses era a religião oficial. Alguns dos cultos religiosos estavam associados a deusas do amor e da fertilidade, pelo que a lascívia, perversão e a libertinagem era famosas nesta cidade.
Foi neste ambiente religioso e cultural que Cipriano nasceu, havendo sido admitido num dos templos sagrados da cidade para realizar os seus estudos sacerdotais e místicos.
Filho de Edeso, ( pai), e Cledónia , ( mae), Cipriano nutria uma verdadeira vocação e gosto pelos estudos místicos e religiosos. Assim, Cipriano dedicou a sua vida ao estudo das ciências ocultas, sendo que ficou conhecido pelo epíteto de o «feiticeiro». Cipriano alcançou grande fama e o seu nome foi reconhecido enquanto um poderoso feiticeiro, capaz de grandes prodígios.
Cipriano nasceu em 250 d.C. Era descendente de uma prospera família e filho de pais abastados e crentes das divindades pagas , que cedo o entregaram ao sacerdócio de Deuses.
Cipriano entrou assim em contacto com as ciências ocultas, e aprofundou afincadamente os seus estudos de feitiçaria, rituais sacrificiais e invocações de espíritos, astrologia, adivinhação, etc.
Cipriano não se limita aos seus estudos no sacerdócio em Antióquia, e desejando aprofundar os seus estudos ocultos,viaja pelo Egipto e pela Grécia, angariando conhecimento com vários mestres e sacerdotes místicos; ele estuda desde as mais ancestrais técnicas astrológicas, á numerologia hebraica, e demais artes misticas.
Por volta dos seus 30 anos, Cipriano encontra-se estabelecido na Babilónia, onde encontra a bruxa Èvora.
Estudando com ela, Cipriano desenvolve as suas capacidades premonitórias e outras matérias sobre as artes da bruxaria segundo as tradições místicas dos Caldeus.
Após o falecimento da Bruxa Évora, Cipriano herda os manuscritos esotéricos da Bruxa Évora, dos quais extrai muita da sua sabedoria oculta.
Ao fim de algum tempo, Cipriano já domina as artes das ciências de magia negra, contactando demónios.
Diz-se que se tornou amigo intimo de Lúcifer e Satanás, para os quais conseguia angariar a perdição de muitas belas e jovens mulheres, o que muito agradava aos diabos, que em troca lhe concediam grandes poderes sobrenaturais.
(Sobre como um bruxo ou bruxa se tornam servos do demónio, consultar Bruxas e Demónios, assim como o Malleus Maleficarum e Sabbath),
Com os poderes infernais que lhe advinham que dialogar directamente com os demónio e pedir-lhes a concretização de favores, Cipriano construiu uma carreira de bruxo com grande fama, produzindo grandes feitos, o que lhe valeu uma imprecedível reputação de grande feiticeiro ou mago.
Muitas pessoas de todos os quadrantes geográficos procuravam os seus serviços místicos e os seus ganhos financeiros eram assinaláveis. São Cipriano viveu assim uma vida de bruxarias e riquezas, sendo que dizem certas lendas que São Cipriano foi dono de um fabuloso tesouro, onde se encontravam tanto os seus manuscritos secretos sobre assuntos místicos e bruxaria, como uma fortuna financeira incalculável, adquirida através do exercício das suas artes esotéricas.
Cipriano foi autor de diversas obras e tratados místicos, e era já um feiticeiro respeitado, reputado e temido, quando foi contactado por um rapaz de nome «Aglaide», ( ou Adelaide).
O rapaz estava ardentemente apaixonado por uma belíssima donzela Cristã de nome Justina.
Aglaide tinha encontrado o consentimento dos pais de Justina quanto a um casamento com ela, contudo a donzela professava uma forte fé cristã e desejava manter a sua pureza, oferecendo a sua virgindade a Deus. Por esse motivo, Justina recusou-se casar.
Desgostoso mas com forte determinação em possuir Justine, Adelaide encomendou os serviços de Cipriano, o «mago dos magos», grande estudioso e sabedor dos conhecimentos do oculto.
Cipriano usou de toda a extensão da sua bruxaria para fazer Justine cair nas tentações carnais, levando-a a abrir-se e oferecer-se a Aglaide, ao passo que renunciando á sua fé Cristã.
Cipriano fez uso de diversos trabalhos malignos, e contudo nenhum deles surtiu qualquer efeito.
Para espanto de Cipriano, todo o batalhão de feitiços que usava era repelido pela jovem rapariga apenas através do sinal da cruz e das suas orações
Acostumado a fazer belas moças cair na tentação da carne e assim a leva-las a entrar pelos caminhos da luxúria, conquistando-as para si mesmo, ( a favor do diabo, a quem com a perversão lhes vendia as almas ), ou para as abrir a quem lhe encomendava os serviços de feitiçaria, Cipriano não consegue entender o que se estava a passar.
Ele encontrou muitas dificuldades, sendo que pediu ao demónio que perseguisse a jovem e bela Justina, ora lançando-lhe forte tentação e inflamando-a se desejo carnal, ora atormentando-a com visões e aparições, ora tentando-a vergar com todo um ardil diabólico, que ia de doenças, a todo o tipo de enfermidade. Noite após noite, a pedido de Cipriano, o demónio visitava a jovem Justina com a sua infernal quantidade de seduções e castigos. Nada resultou.
Cipriano desiludiu-se profundamente com as suas artes místicas que ate então tinham funcionado tão forte e infalivelmente, para agora se verem derrotadas por uma mera donzela com fé em Deus e em Cristo.
Aconselhado por Eusébio, ( um amigo seu), e observando o poder da fé de Justine, Cipriano concerteu-se ao Cristianismo.
Assim fazendo-o, o feiticeiro destruiu grande parte das suas obras esotéricas e tratados de magia negra, assim como ofereceu e distribuiu todos os seus bens materiais e riquezas aos pobres.
Depois de se converter, Cipriano ainda foi fortemente atormentado por espíritos de bruxas que o perseguiam, mas teve fé e assim afastou de si tais aparições que apenas o pretendiam reconduzir aos caminhos da feitiçaria.
Cipriano viveu uma vida de castidade e virtude, vindo a ser ordenado sacerdote, e mais tarde alcançado a posição de Bispo de Cartagena.
A fama de Cipriano era contudo grande e as notícias da sua conversão ao cristianismo chegaram á corte do Imperador Diocleciano que á data tinha fixado residência na Nicomédia.
Cipriano e Justina foram perseguidos, aprisionados e lavados ao imperador, diante do qual foram forçados a negar a sua fé. Naquele tempo, muitas das perseguições contra os cristãos visavam fazer os fiéis abjurar, ou seja, renunciar á fé em Cristo. A esses cristãos, cuja a vida era poupada, chamavam-se: lapsi
Consta que Justina e Cipriano, foram por isso violentamente torturados, na tentativa de os levar á «abjuração».
Justina foi despida e chicoteada, ao passo que Cipriano foi martirizado com um açoite de pentes de ferro.
Mesmo com a carne arrancada do corpo a cada flagelação do chicote com dentes de ferro, Cipriano não renegou a sua fé, e Justina manteve-se sofredoramente fiel a Deus.
Conta a lenda, que outros grandes tormentos foram infligidos a Cipriano e Justina, sendo que ambos saíram ilesos, por obra de um milagre de Deus.
Perante a recusa de Cupriano e Justina em renunciar á sua fé, e enraivecido perante o milagre que teimava em salvar Cipriano e Justina das torturas, o imperador ordenou a sua condenação á morte.
Cipriano e Justina foram decapitados a 26 de Setembro de 304 d.C, juntamente com um outro mártir de nome Teotiso. Aceitaram a sua execução com grande fé e serenidade, tendo falecido com coragem e dignidade.
Os seus corpos nem sequer foram sepultados, e ficaram expostos por 6 dias. Um grupo de cristãos comovidos pela barbaridade, recolheu-os.
Mais tarde, o imperador Cristão Constantino, (272 – 337 d.C. ), ouviu falar de São Cipriano.
O imperador Constatino foi o primeiro imperador Romano a confirmar o cristianismo como religião oficial. Diz a lenda que na noite antes de uma batalha decisiva ás portas de Roma, o imperador sonhou com uma cruz e ouviu uma voz que lhe disse:«sob este símbolo vencerás».
Constantino interpretou o sonho como uma mensagem de Deus, e de facto venceu a batalha e conquistou o mais alto cargo de poder do império romano. Governou o império ate morrer.
Foi Constantino que convocou o concilio de Niceia, onde se fixou a data da Páscoa crista, assim como se decidiu sobre a natureza divina de Jesus. Foi também Constantino que através do Èdito de Constantino, fixou o domingo como dia de descanso cristão, o correspondente ao Sabbath judaico.
Constantino ordenou que os restos mortais de Cipriano fossem sepultados na Basílica de São João Latrão, localizada na praça com o mesmo nome em Roma, que é a catedral do Bispo de Roma, ou seja: o papa. A basílica de São João de Latrão, (Archibasilica Sanctissimi Salvatoris), é a «mãe» de todas as igrejas, aquela na qual o Santo Padre exerce o seu mais alto oficio divino.
A Basílica de São João de Latrão encontra-se localizada na praça de mesmo nome em Roma e é a Catedral do Bispo de Roma: o Papa. O seu nome oficial é «Arquibasílica do Santíssimo Salvador», e é considerada a “mãe” de todas as igrejas do mundo.
Foi na «Omnium Urbis et Orbis Ecclesiarum Mater et Caput», ( mãe e cabeça de todas as igrejas do mundo), que São Cipriano, o santo e mártir, encontrou o seu eterno repouso.
Todo percurso de São Cipriano é um verdadeiro hino á vida no esplendor da sua existência:
do Diabo a Deus, dos anjos aos demónios, da feitiçaria é fé crista, da magia negra á magia branca, em tudo São Cipriano mergulhou, estudou e viveu.
Do pecado á virtude, da luxúria á santidade, da riqueza á pobreza, do poder á martirização, se alguém é digno de um percurso existência completo, rico e enriquecedor, eis que este santo assim o representa.
Controverso e polémico, em São Cipriano a própria noção de evolução espiritual através da profunda vivência das mais diversas realidades espirituais, ( do mais profano excesso, á mais sacrificada ascese), encontra corpo na vida e obra deste feiticeiro e mártir.
Outras figuras houveram como ele ao longo da história:
Maria Madalena amava profundamente a luxúria e era prostituta, uma mulher totalmente entregue ao prazer da carne, da vaidade e da luxúria, e que mais tarde viria a ser Santa; Paulo perseguia a matava homens e mulheres inocentes apenas por serem cristãos. Era um sanguinário predador de homens, um assassino que assistiu á morte de São Estêvão, (o primeiro mártir), e que perseguiu e matou cristãos na estrada que conduzia a Damasco, e que depois ascendeu a Santo; Maria Egípcia, viveu na Alexandria, ( Egipto), onde se tornou prostituta. Não vendia o corpo pensando em dinheiro, mas apenas pelo vício do prazer. A quem lhe queria pagar, ela recusava o dinheiro e dizia que se prostituía apenas para ter quantos homens fosse possível, fazendo de graça o que lhe dava prazer. Também ela se tornou Santa Maria do Egipto, a ermitã.
A história está repleta de santos que foram pecadores, e de grandes pecadores que se tornaram santos.
São Cipriano é também um desses exemplos da natureza humana em toda a sua complexa extensão:
- de pecador dedicado á feitiçaria, considerado o «mago dos magos», apelidado como o «discípulo preferido do Diabo», conquistando pela bruxaria belas mulheres para as entregar ás mãos do Diabo e da luxúria, e construindo fortuna com fundamento na pratica do ocultismo, chegou a santo na mais devota e redentora assunção do termo.
Muito mais que apenas um feiticeiro, ou apenas um santo: é um símbolo da mais íntima natureza humana, na sua ampla dualidade. São Cipriano, foi bruxo de grande poder, bispo de grande sabedoria e santo de grande nobreza. Por tudo isso, ( e tal como Maria Madalena, que foi pecadora e encontrou a luz em Cristo), São Cipriano foi um exemplo que redenção e salvação. Os seus saberes contudo, abrem as portas á magia negra mais poderosa, ou á magia branca mais celestial. Cabe a cada um de nós, usar os saberes de São Cipriano em consciência, e de acordo com as nossas escolhas.
São Cipriano ficou famoso tanto pela sua vida de escândalos e luxúria, como pela pratica da mais poderosa bruxaria, ( que aprendeu tanto nos templos das Deusas da fertilidade, como com a famosa Bruxa Évora), como pelos muitos milagres que fez depois de se converter ao cristianismo, ( o que o levou a ser um dos mais bem sucedidos evangelizadores do seu tempo), e por ultimo pela sua morte como mártir em nome da Fé.
Contam as lendas que São Cipriano, através dos conhecimentos obtidos com a bruxa Évora, terá feito um pacto com um demónio. Por causa desse pacto, São Cipriano ter-se-ia entregue a uma vida de luxúria e pecado, por forma a satisfazer o demónio, entregando belas mulheres á perdição e perversão das seduções carnais. Desse pacto demoníaco celebrado por São Cipriano, conta-se que lhe advieram os extensos poderes mágicos com os quais o bruxo realizou incontáveis trabalhos místicos, que lhe renderam uma fama sem precedentes.
Dizem algumas fontes, que os manuscritos de São Cipriano ainda existentes, (que podem ser usados tanto para o bem, como para o mal), encontram-se conservados na Biblioteca do Vaticano, e que os livros que presentemente existem no mercado são excertos retirados dessas obras originais.
Nos saberes de São Cipriano, é claro de embora Cipriano haja renunciado á prática das artes da feitiçaria, ele por vezes podia ensina-la a quem se encontrava em perigo ou tormentos, a fim de auxiliar essa pessoa, se assim fazendo-o então o santo conquistasse mais uma alma para a salvação da cristandade, o que apenas atesta que magia usada para operar em Deus e a bem da salvação de uma alma cristã, é uma coisa boa e virtuosa.
Seja como for, São Cipriano é um Santo e Bruxo milagreiro, cujas as graças já favoreceram milhares de sofredores por todo o mundo, em todo o tipo de situações mais desesperadas. O dia de São Cipriano é celebrado a 2 de Outubro, sendo que na última noite desse mesmo mês, a 31 Outubro( para 1 Novembro, a noite mais longa do ano), é celebrado o dia dos mortos, ou o dia das bruxas. O mês 9 de todos os anos, é um mês de profunda tradição na bruxaria.
E sobre são Cipriano, eis que muitos por isso perguntam:
Deve-se venerar a são Cipriano «antes» ou «depois» da sua conversão?
Responde-se:
Deve-se olhar a são Cipriano no seu «todo», ou seja, deve-se olhar para «todo» o homem e para «toda» a vida do santo, pois que da mesma forma que não é possível partir um homem ao meio, então também não é possível conhecer ao santo dividindo-o em dois.
E por isso:
Como se poderá alguma vez compreender a mensagem e o ensinamento do santo, se não se olhar a «toda» a sua vida, e a «toda» a sua vivencia?
Acaso será possível ter vinho negando as uvas? Ou acaso será possível fazer o pão desprezando ao grão da farinha? Como podereis edificar uma grande casa sem o pequeno tijolo?, pois acaso não é necessário um para construir ao outro?
E então: como podereis entender á vida de um santo se não olhardes a «toda» a sua vida?, e como podereis compreender á mensagem de um santo se não observardes «toda» a sua vivencia?, da mesma forma que como podereis entender um livro se apenas lerdes metade dele, e deitardes fora a outra metade do livro?
E na verdade: como poderia são Cipriano verdadeiramente ter compreendido que no mundo do espírito não há Senhor acima de Deus, se o santo não se aprofundasse nas mais obscuras e ocultas vivencias místicas?, de forma a em certo momento entender que até o Diabo, ( ele assim o confessou a são Cipriano), é um anjo submetido ao poder de Deus?, e que nem o poder do maior anjo ou do maior demónio conseguem vencer ao poder de Deus?, e que todas as coisas estão submissas e submetidas a Deus?, e que nada sucederá neste mundo se Deus não o permitir?, pois que o poder de Deus suplanta e supera todos os demais poderes?
E por isso: toda a vida do santo deve ser olhada, pois que o santo nem negou ás coisas do espírito, nem negou ás coisas da santidade; E o santo não negou nem ás coisas místicas, nem negou ás coisas de Deus; E antes porem, o santo tudo isso viveu, e tudo isso vivenciou, para deixar ao mundo um legado e uma mensagem de fé, e essa mensagem foi tal conforme já nas escrituras é anunciado, onde assim está escrito:
o SENHOR DOS ESPIRITOS (…) se manifestou
2 Macabeus 3,24

Pois então:
Deus é «Senhor dos espíritos», e «Deus» é «Senhor» de «todos os espíritos», e «Deus» é «Senhor» de «todas» as coisas do «mundo do espírito», e por isso no «mundo do espírito» nada dará fruto se Deus não quiser, e com Deus tudo dará fruto.
E no fundo, era esta uma das mensagens de são Cipriano, pois que ele que tantos prodígios conseguiu alcançar com as suas magias, porem acabou concluindo que as suas mais poderosas magias apenas davam fruto quando Deus permitia, e porem quando Deus não permitia então não havia fruto possível.
E por isso, eis que assim são Cipriano acabou observando na sua obra:
«(…) Disse o demónio - Infelizmente nada possa fazer contra o Deus todo poderoso (…) que se quiser poderá nos impedir de qualquer movimento»
Obra de S. Cipriano – Pag 22, Capitulo «Nascimento, vida e Morte de S. Cipriano; Cipriano e Clotilde»
Pois então:
Se não fosse «toda» a vida do santo, tanto antes como após a sua conversão, então jamais tamanha «chave» lhe teria sido dada, para que se lhe permitisse verdadeiramente vislumbrar as leis do mundo do espírito, e assim deixar um legado de sabedoria inigualável.
E por isso, assim se pode entender da mensagem de são Cipriano:
«Deus» é espírito, e «Deus» é o «Senhor» dos espíritos, e por isso todas as «coisas do espírito» são de «Deus», e todas as coisas do «mundo do espírito» são as coisas do «reino de Deus»; E por isso, todas as coisas do espírito são boas se vividas em Deus, e todas as coisas do espírito dão fruto se vividas com Deus, e porem sem Deus não há prodígios possíveis, e fora de Deus não há maravilhas.
E por isso, são Cipriano falando das suas artes mágicas e místicas, assim disse na sua obra:
«(…) havemos de notar que tudo quanto fazemos é em nome de Jesus Cristo»

Obra de são Cipriano; Instruções a todos os religiosos, Pag. 36
Ou seja: assumiu são Cipriano que tudo quanto foi feito na sua obra, ( seja magia branca, ou magia negra, ou encantamento, ou feitiço, ou conjuração, ou invocação), tudo é feito em Deus, e com Deus; assume por isso são Cipriano, que a «magia» é coisa do «espírito», e que por isso toda a coisa da «magia» sendo coisa do «espírito» é coisa do «mundo do espírito», e o «mundo do espírito» é o «reino de Deus», e por isso não há «magia» que possa dar fruto fora de «Deus», e com «Deus» toda a «magia» é invencível.
Ou seja, sobre as artes do espírito, e sobre a magia, e sobre os misticismos, eis que são Cipriano acabou ensinando tal conforme assim está escrito:
tudo o que Deus criou é bom, e nada é desprezível se tomado com acção de graças, porque é santificado pela Palavra de Deus e pela oração
1 Timóteo 4,1;4

Pois então: todas as coisas do mundo do espírito são boas e nenhuma é desprezível, se elas foram vividas em Deus, e se praticadas com Deus.
E por isso, a todos aqueles que acusando o santo por causa das suas sabedorias místicas e do espírito, então julgam poder dividi-lo em «antes» e «depois» da sua conversão, então a esses as próprias escrituras lhes respondem como assim está revelado:
todas as coisas Te servem a Ti
Salmo 119,91

Pois então:
Deus é Senhor de todas as coisas, e por isso todas as coisas servem a Deus, e por isso todas as artes do espírito serão desaconselhadas se praticadas fora de Deus, e porem todas as artes do espírito, ( sejam elas de magias «negras», ou magias «brancas», ou qual for a sua «cor»), eis que todas as artes do espírito são boas e virtuosas se praticadas com Deus, e em Deus.
E assim sendo:
São Cipriano jamais renegou ás magias e aos portentosos prodígios que delas podem nascer; porem são Cipriano também não negou a Deus, e converteu-se, e morreu mártir pela fé em Cristo. E por isso, a lição do santo foi: as magias existem, e são coisas do espírito, e elas darão bom fruto se forem operadas na fé em Deus, por Deus, e jamais fora de Deus, pois que fora de Deus não há maravilhas do espírito.
São Cipriano veio assim servir um novo e diverso pão de esperança, e o santo veio oferecer um novo e amplo vinho de espiritualidade, e todo esse novo fruto reside no ensinamento de são Cipriano, e o ensinamento deve ser olhado no «todo» e não apenas na «parte».
Nalgumas doutrinas, são Cipriano é apontado enquanto o santo Padroeiro de magos, magas, bruxos, bruxas, necromantes, feiticeiras, espíritas, e de todos aqueles homens de fé que operam nas artes do espírito e do oculto.
Sendo o santo protector desta classe de homens de fé e ocultistas, são Cipriano assume-se como o santo protector dessas artes e de seus artificies, sendo que a são Cipriano se pede protecção e intercedência em todos os empreendimentos místicos e obras do espírito, procurando sempre que através da intercedência do santo, todos os processos espirituais sejam bem sucedidos, e porem sempre norteados pela luz de Deus, pois que como são Cipriano descobriu: com Deus tudo é possível edificar no espírito, e sem Deus nenhum fruto florescerá no espírito.
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Seis breves apontamentos sobre saberes gerais dos ensinamentos ocultos de S. Cipriano
I
Sobre a natureza da magia, assim dizem os saberes de S. Cipriano:
«A magia é a arte de submeter as potências da natureza á vontade humana. Entre essas potências, há as entidades invisíveis, espíritos, génios, demónios, evocados mediante fórmulas, orações, encantamentos, talismãs, Pentáculos, filtros, e outros agentes naturais»
Obra de S. Cipriano, pag 222, Capitulo «A Magia»
II

São 5 os tipos de orações que São Cipriano ensinou, e servem elas para:
«Para rogar a Deus pelas almas boas; Para esconjurar os espíritos maus; Para curar moléstias; Para conjurar encantos (…); Para se fechar uma morada ou um corpo (…)»
Obra de S. Cipriano, Pag. 37, capitulo «Instruções a todos os religiosos»
III
Sobre a oração, assim dizem os saberes de S. Cipriano:
«A oração é o meio que o homem tem para comunicar-se com Deus e com os espíritos»
Obra de S. Cipriano Pag 391
IV
Segundo os saberes de S. Cipriano, existem conjuros de Magia Negra, para fins de «mandar os espíritos tentar qualquer pessoa de quem desejamos qualquer coisa». Devem-se ao celebrar tais conjuros, respeitar cinco regras, e elas são:
«Não pode ir o conjurador com mais de duas pessoas; não se pode fazer (..) conjuração senão de noite das onze horas ás duas horas, e em lugares solitários. (…) o conjurador deverá ir vestido de preto e nenhuns dos cicunstantesdeverá levar sinais sagrados»
Obra de S. Cipriano Pag 332, Capitulo «Grande Conjuração de Magia Negra»
V
Sobre a bruxaria, sua natureza, seus poderes e os seus limites, assim dizem os ensinamentos de S. Cipriano:

*
«Os bruxedos, (…) na sua forma mais pura, é uma tentativa de (…) fazer aparecer espíritos benignos ou malignos (…)
Obra de S. Cipriano; Pag 41, Capitulo «Os bruxedos no tempo de São Cipriano»

*
«Cumpridas as instruções de Lúcifer, Cipriano pode então apossar-se de Elvira, como pretendera»
Obra de S. Cipriano, Pag 20, Capitulo «Cipriano e Elvira»

*
«(…) Disse o demónio - Infelizmente nada possa fazer contra o Deus todo poderoso (…) que se quiser poderá nos impedir de qualquer movimento»
Obra de S. Cipriano – Pag 22, Capitulo «Nascimento, vida e Morte de S. Cipriano; Cipriano e Clotilde»

*
«O espírito das trevas não teve outra saída senão explicar francamente a situação (…) O sinal da cruz afastava qualquer demónio e era justamente aquele sinal que Justina se valia na hora das tentações e das tribulações»
Obra de S. Cipriano, Pag 28 Capitulo «Conversão de S. Cipriano»
VI
Dizem o saberes de S. Cipriano que uma amarração com recurso a magia negra, desperta sobre a sua vitima, tanto tentações como tribulações, conforme seja necessário para forçar uma certa criatura a aceitar um fim amoroso que ela não deseja. Desde infortúnios a tentações carnais, as astúcias demoníacas operam de diversas formas, conforme se pode ler:
«Aglaide resolveu apelar para outros recursos, e foi procurar Cipriano, o mago dos magos (…) Atendendo á solicitação, Cipriano valeu-se de todos os recurso da sua arte magica para satisfazer o moço enamorado (..) Cipriano fez com que jovem fosse presa de fortes tentações e ficasse apavorada durante noites com aparições (…) Foi aquele demónio a casa de Justina, procurando excitar-lhe o espírito e acender-lhe os desejos da carne(…) Perturbada pela influencia diabólica, Justina (..) sentia incendiar-se-lhe na carne a chama do desejo (…) a jovem (…) sentiu ímpetos de buscar amante fosse como fosse (..) o príncipe das trevas(…) vingou-se desencadeando (..) uma série de doenças de toda a sorte»
Obra de S. Cipriano, Pag.s 27-31, Capitulo « A Conversão de S. Cipriano»

Através dos seus saberes ocultos, S. Cipriano conseguiu alcançar grandes prodígios, apossando-se dos amores de Elvira e permitindo que uma bruxa alcançasse milagroso sucesso nos seus serviços à filha do conde Everaldode Saboril.
Contra o seu poderio de artes magicas, apenas Santa Justina lhe resistiu pois que Deus não permitiu que o seu feitiço produzisse fruto. Contudo, mesmo assim está escrito que:
«(…) os manuscritos que ele escrevera e os apontamentos da bruxa Èvora, botou-os no fundo da sua grande arca, pois, apesar de não terem sido fortes o suficiente contra Deus(…), os reconhecia de portentoso valor e serviriam futuramente (…) »

Obra e vida de S. Cipriano, extraída do Flos Sanctorum
S. Cipriano ensina nos seus escritos, que perante o tamanho poder do feitiço e do encantamento da bruxaria, apenas a Deus pode impedir o seu resultado, pois o santo assim mesmo o observou junto de Santa Justina. Há excepção disso, o saber oculto de S. Cipriano é capaz de abrir portas a um poderosíssimo contacto com os espíritos. Os saberes ocultos de S. Cipriano são por isso e reconhecidamente, uma inigualável fonte de ensinamentos místicos, que já operaram prodígios e favorecimentos por todo o mundo, através de uma das maiores autoridades históricas e espirituais no mundo esotérico.
São Cipriano
Filho de pais pagãos e muito ricos, nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.
Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.

A CONVERSÃO CRISTÃ
Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.
Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela (também convertidos à fé Cristã) concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.
Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações e o Sinal da Cruz.
A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.

A MORTE
As notícias da conversão e das obras cristãs de Cipriano e Justina, chegaram até o imperador Diocleciano que se encontrava na Nicomédia. Assim, logo foram perseguidos, presos e torturados. Frente ao imperador, viram-se forçados a negar a fé cristã. Justina foi chicoteada, e Cipriano açoitado com pentes de ferro. Não cederam.
Irritado com a resistência, Diocleciano ainda lançou Cipriano e Justina numa caldeira fervente de banha e cera. Os mártires não renunciaram, e tampouco transpareciam sofrimento. O feiticeiro Athanasio (que havia sido discípulo de Cipriano) julgou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio lançado por seu ex-mestre. Na tentativa de desafiar Cipriano e elevar a própria moral, Athanasio invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Seu corpo foi dizimado pelo calor em poucos segundos.
Após este fato, o imperador Diocleciano finalmente ordenou a morte de Justina e Cipriano. No dia 26 de Setembro de 304, os mártires e um outro cristão de nome Teotiso, foram decapitados às margens do Rio Galo da Nicomédia. Os corpos ficaram expostos por 6 dias, até que um grupo de cristãos recolheu e os levou para Roma, ficando sob os cuidados de uma senhora chamada Rufina. Já no império de Constantino, os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João Latrão.

O fato mais curioso da vida de São Cipriano é dele ter queimado seus Manuscritos e tempos depois reapareceu o livro de Capa Preta. Ninguem sabe como ele reapareceu, mas foi traduzido para várias linguas incluindo o portugues.
Vários outros livros apareceram usando o nome de Cipriano, e o próprio livro de Capa Preta dizem ter sido muito alterado com o tempo.
O Livro é repleto de magias negras pesadas incluindo a Oração da Cabra Preta!

WICCA CRISTÃ

Wicca Cristã não Existe



Muitos pesquisadores procuraram chegar à uma conclusão sobre as origens do Cristianismo e sobre a existência real do próprio Cristo, através de provas históricas e materiais fidedignos para comprovar a veracidade de sua religião e isso jamais foi conseguido.
Muitos autores renomados como Fílon de Alexandria, Plínio, Marcial, Sêneca e muitos outros que viveram no século I e estavam fortemente engajados nas questões religiosas de sua época, jamais citaram Jesus. Ele não é citado no Sinédrio de Jerusalém, nos anais do Imperador Tibério ou de Pilatos. Muitos documentos de pessoas que teriam vivido na mesma época que Jesus são guardados em museus e bibliotecas, mas nenhum deles menciona sua existência e seus prováveis discípulos não escreveram sequer uma linha sobre Jesus.
Através de testes modernos como o comparativo de Hegel, o uso de isótopos radiotivos e radiocarbônicos, todos os escritos apresentados que buscavam comprovar a existência de Jesus pela Igreja revelaram-se falsificados.
Filon de Alexandria, um dos mais célebres judeus de sua época, relata muitos fatos de sua época sobre a sua própria religião e de muitas outras e não citou Jesus em nenhum de seus relatos. Ele próprio escreveu sobre Pilatos, mas não disse nada sobre o Julgamento de Jesus que Pilatos teria oficiado. Apóstolos,
Maria, José, nenhum deles é mencionado por Filon.
Justo de Tiberíades escreveu sobre a história dos Judeus, de Moisés ao ano 50, mas não escreveu uma linha sobre Jesus.
Flávio Josego, que nasceu no ano 37, escreveu ativamente até o ano 93 sobre inúmeras manifestações religiosas e messias da época, mas nada menciona sobre Jesus Cristo Nos documentos existentes de gregos, hindus e romanos dos séculos I e II, constata-se que eles jamais ouviram falar de algum Jesus. Ninguém, entre escritores e historiadores, que teriam vivido na mesma pretensa época que Jesus, falou algo sobre ele ou sobre qualquer aparição pública ou tumulto religioso encabeçado por alguém chamado Jesus.
Os documentos que descrevem a atuação de Pôncio Pilatos nada falam sobre alguém de nome Jesus Cristo, ou sobre um Messias da época que teria sido preso ou crucificado por ter realizado feitos sobrenaturais. A existência de Pilatos é real e histórica e se ele, que supostamente teria estado no centro dos acontecimentos, já que era o governador da Judéia, não soube ou relatou um fato tão importante quanto a existência e julgamento de Jesus, é por que ele realmente não existiu.
Na Escola de Tubíngen, na Alemanha, Filósofos e Teólogos comprovaram que a Bíblia não possui nenhum valor histórico e que os Evangelhos seriam arranjos e ficções sustentadas pela Igreja, assim como o próprio Jesus.
Um padre chamado Aífred Loisy, decidindo pesquisar sobre o Cristianismo depois de inúmeras críticas e descréditos que essa religião vinha sofrendo na França, chegou a conclusão que as críticas estavam baseadas em fatos fundamentados e
incontestáveis. Publicando logo em seguida sua pesquisa, foi excomungado em 1908.
Muitos historiadores afirmam que Jesus teria sido um ser idealizado, com a função de dar continuidade através de um novo prisma ao Judaísmo que se dividia e morria. Criando Jesus Cristo, o Judaísmo dava surgimento à uma nova religião.
Quando os Judeus chegaram em Roma e Alexandria e se deparam com uma religião passada de geração em geração através da tradição oral e várias crendices populares e superstições locais, decidiram introduzir ali a nova religião que traziam. Em pouco tempo o Cristianismo, com sua filosofia simplista e sedutora, conseguiu conquistar as pessoas mais comuns, servos, serviçais,
escravos e posteriormente os senhores, os reis, rainhas e imperadores.
Crestus, que era o título dos messias dos essênios, foi o nome pelo qual os judeus optaram por chamar o "salvador" de seu povo e foi assim que surgiu o nome Cristo. Baseado também nas crenças e modo de vida dos essênios, onde bens materiais eram divididos e os problemas pessoais pertenciam à toda a comunidade, a nova religião que chegava conquistou os escravos e as pessoas mais humildes. Além disso, Crestus era um nome extremamente comum na
Judéia e Galiléia e por isso muitas referências encontradas nos textos e documentos da época não se aplicam ao Cristo do Cristianismo. Assim, Jesus foi inventado para atender à tendência religiosa e mística de uma época Quando o Cristianismo começou a elaborar sua doutrina teve grandes dificuldades em conciliar fé e razão por isso fez várias adaptações com lendas Pagãs e Deuses solares. O Cristianismo passou a ser assim um sincretismo das incontáveis seitas judaicas misturado às crenças de Deuses Solares, dando
apenas novos nomes e roupagens a Deuses que morriam e ressuscitavam nos mitos e que predominavam à séculos com rituais solares, fundamentados em um Deus que se sacrificava. O Jesus dos Evangelhos não é um ser real, que existiu, mas sim um personagem criado em cima da visão religiosa sobre Brahma, Buda, Krishna, Mitra, Hórus, Júpiter, Serapis, Apolo e muitos outros Deuses......
Se pegarmos o mito de Hórus, que surgiu milênios antes do suposto nascimento de Cristo, vemos que:
1. Hórus foi o Deus solar e o redentor dos egípcios
2. Hórus nasceu de uma virgem
3. O nascimento de Hórus era festejado em 25 de dezembro
4. Hórus também era considerado a luz e o bom pastor
5. Hórus realizava feitos milagrosos
6. Hórus teria 12 discípulos (uma alusão aos 12 signos de zodíaco
governados pelo sol)
7. Hórus ressuscitou um homem de nome Elazarus (Cristou ressuscitou Lázaro)
8. Um dos títulos de Hórus é "Krst"(seria Cristo?)
Se analisarmos mais apuradamente perceberemos que o mito da virgem grávida, que foge de Herodes em direção ao Egito, para salvar o filho (Jesus) que carrega em seu ventre não é nada mais nada menos que uma reinterpretação da lenda de Ísis e Hórus fugindo da perseguição de Seth.
Se analisarmos outros mitos como os de Mitra, Adônis, Krishna, Átis, dentre outros, vamos encontrar as fontes sob as quais o Cristianismo foi inventado.
Em 3.500 AEC temos Krishna que também nasceu de uma Virgem, chamada Devanaguy, que foi avisada com antecedência sobre a concepção de seu filhodeus e quem daria o nome de Krishna (Cristo?). Uma profecia dizia que Krishna destronaria seu tio, o Rajá. Por causa disso a mãe de Krishna foi presa numa torre
para não ser concebida por ninguém. Dizem as lendas que o espírito de Vishnu atravessou o muro e se uniu à ela, se mostrando como uma luz que foi absorvida por Devanaguy. Quando Krishna nasceu, um vendaval demoliu a torre onde Devanaguy estava aprisionada e ela fugiu com Krishna para Nanda. O Rajá mandou matar todas as crianças que tinham acabado de nascer, mas Krishna consegue escapar. Pastores foram avisados da chegada de Krishna através de
um aviso nos céus e lhe levaram presentes. Com 16 anos, Krishna começa a viajar pela Índia para pregar sua doutrina, abandonando sua família e passando a ser chamado de Redentor pelo seu povo. Krishna faz muitos discípulos e recebe o nome de Jazeu (Jesus?) que significa "Aquele que nasceu através da fé".
O nascimento de Buda também teria sido avisado à sua mãe. Quando nasceu uma luz intensa iluminou o mundo fazendo mudos falarem, cegos verem e uma brilhante estrela no céu anunciou seu nascimento. Buda fez os mais sábios de seu tempo se admirarem com o seu vasto conhecimento e muito cedo começou a pregar e converter pessoas. O seu discurso mais famoso também leva o nome de O Sermão da Montanha e depois que morreu apareceu aos seus seguidores.
Mitra também teve uma mãe virgem. Nasceu numa gruta em 25 de dezembro.
Uma estrela surgiu no leste quando ele nasceu, indicando o caminho para magos que trouxeram incenso, mirra e ouro. Ele era considerado o intermediário entre Ormuzd e os homens. Após sua morte teria também ressuscitado.
Baco teria realizado muitos feitos como transformar água em vinho e multiplicar peixes.
Podemos perceber que o Cristianismo foi inventado em cima de lendas não apenas de Judeus, mas também de mitos e religiões pré-judaicas.
Os rituais cristãos também são adaptações de ritos pagãos muito mais antigos.
O Mitraísmo era praticado em grutas e locais subterrâneos e o Cristianismo primitivo também. Nos ritos mitraícos haviam ritos com pão e vinho.
A cruz solar, as refeições comunais, a destinação (dia do sol) para descansar também faziam parte de ritos do Mitraísmo que foram sincretizados pelos Cristãos.
As vestimentas dos sacerdotes católicos são copias das roupas ritualísticas dos sacerdotes de Mitra, que já existiam muito tempo antes do Cristianismo e até mesmo do suposto nascimento de Cristo.
Ritos envolvendo pão e vinho também eram utilizados pelos hindus,
representando o corpo e o sangue de Agni. Como os padres católicos os monges budistas também lavam as mãos antes da libação.
A crença na vida depois da morte, na ressurreição, no Inferno e num princípio do bem e mal absolutos eram crenças igualmente inerentes ao Mitraísmo e Judaísmo.
Do Egito adotaram a autoflagelação, herdadas dos Sacerdotes de Ísis que se açoitavam para expiar suas culpas e erros humanos. No Egito também, existiam "mosteiros" para os sacerdotes que desejavam fazer voto de castidade. Dos gregos se apropriaram da água lustral. Dos Indostânicos adotaram o celibato, o jejum e a esmolação. Os etruscos copiaram o ato de juntar as mãos ao rezar....
Tudo isso já existia milênios antes do suposto nascimento e existência de Cristo.
Textos de pagãos, essênios e gnósticos foram as bases utilizadas no Concílio de Nicéia para compor o Novo Testamento.
Deduzimos então que o Cristianismo não tem nada de original e nem que o Cristo histórico realmente existiu. Fica claro que os rituais, as raízes e bases do Cristianismo provêm de uma enorme variedade de diferentes religiões e mitos sobre as diferentes divindades solares existentes e muito cultuadas na época em
que os judeus decidiram dar sequência à uma religiosidade que morria e desaparecia.
O que tudo isso nos ensina?
Isso tudo nos mostra que conceitos cristãos, como são entendidos hoje e sustentados durante séculos por uma religiosidade dominante que mantém seus seguidores na completa ignorância de sua verdadeira origem, nada têm a fornecer ou acrescentar a prática Wiccaniana.
Se ao contrário disso caminharmos na contra mão, buscando fazer não uma Wicca Cristã, mas sim uma Wicca que busca pelas origens dos cultos solares, que são anteriores e deram origem ao próprio Cristianismo, teremos muito mais à aprender e à acrescentar em nossa prática religiosa.
Wicca Cristã é um conceito incompatível e incoerente devido a todo o dogmatismo não só do Catolicismo, mas do Cristianismo de uma forma geral. Wiccanianos
buscam celebrar uma religião que visa se libertar de vários grilhões,
principalmente dos grilhões da ignorância que dominaram nossa sociedade durante praticamente dois mil anos através do monoteísmo e dos valores judaicocristãos.
Para que retroagir ou persistir no mesmo erro quando podemos mudar?
Uma leitura atenta de uma estrofe da carta redigida pelo Papa Gregório ao Abade Mellitus em 601 EC, que pode ser lida na íntegra no Capítulo 30 do livro História Ecclesiastica, demonstra como o Paganismo foi cruelmente perseguido pelos
primeiros Cristãos:
"Quando, com a ajuda de Deus, chegar na presença de nosso ilustre reverendo irmão Bispo Augustino, eu quero que você diga a ele o quanto tenho ponderado sobre a questão dos ingleses: Eu cheguei a conclusão de que os templos dos ídolos na Inglaterra não devem de forma alguma ser destruídos. Augustino deve esmagar os ídolos, mas os templos devem ser borrifados com a água benta e altares devem ser instalados nesses lugares, relíquias devem ser confiscadas.
Pois devemos aproveitar os templos bem construídos e purificando-os da adoração dedicá-los ao serviço do Deus verdadeiro. Deste modo, eu espero que as pessoas, vendo que seus templos não foram destruídos deixem sua idolatria e continuem a freqüentar os lugares como antigamente e adorarão naquele mesmo lugar, com o qual estão acostumados, e mais facilmente irão se familiarizar com a
verdadeira fé".
Estas foram as instruções das autoridades Católicas para facilitar a conversão dos ingleses, uma estratégia alienadora que privou os Pagãos do Passado de cultuarem seus antigos Deuses. O que fazem todos os que desejam uma fusão entre Wicca e Cristianismo é perpetuar este genocídio cultural e religioso Cristão, que simplesmente esmagou o Paganismo para se impor como a religião oficial e a única verdadeira até os dias atuais.
Concordo plenamente que todas as religiões possuem algo de valor para compartilhar com as pessoas. Isto, no entanto, não significa que as religiões devam ser misturadas num grande “balaio” para que se pareça que tudo é a mesma coisa.
A Wicca é um caminho Pagão. Isso significa, de um modo geral, que ela possui conceitos que são completamente antagônicos ao Cristianismo ou a qualquer outra religião monoteísta e conversista. Paganismo é um sistema religioso panteísta, animista, totêmico, de bases xamanísticas e na maioria das vezes politeísta. Qualquer religião centrada na Terra e que não compreenda o Sagrado
de forma transcendental é Pagão. O Paganismo de uma forma geral é sexual, ctônico, telúrico, politeísta, panteísta e algumas vezes, inclusive, henoteísta ou panenteísta. Toda forma de Paganismo se baseia na Terra e no culto aos Antigos Deuses. Isto coloca qualquer vertente Pagã em uma posição completamente oposta ao Cristianismo e outras religiões totalmente transcendentes, baseadas em pecados e que desejam a salvação da alma do homem.
Inserir elementos Cristãos no Paganismo é algo incoerente e só prestará um desserviço aos ideais de amor, reverência e respeito à Terra que todos nós nutrimos. Basta dar uma breve passada de olho no primeiro livro sagrado dos Cristãos (Gênesis), cujas citações do Capítulo 1 (versículos 26 e 28) são transcritas abaixo, para chegar a esta conclusão:
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; e DOMINE sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e SOBRE TODA A TERRA, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra"
"E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a Terra, e SUJEITAI-A; e DOMINAIS sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre TODO animal que se move sobre a Terra"
Se pararmos para pensar que a origem de muitas formas de preconceitos e guerras tem sua origem na interpretação literal de versículos como estes em livros "sagrados", teremos um motivo maior ainda para não desejarmos esta fusão entre Wicca e Cristianismo. A única coisa que o Cristianismo pode acrescentar à Wicca e ao Paganismo é a perpetuação de seus "valores" distorcidos que só contribuíram para a exploração da Terra e intolerância, sem direito ao diálogo com a diversidade e outras religiões.
Misturar Wicca e Cristianismo é um genocídio. As consequências desse genocídio interessa a todos nós porque sofremos seus efeitos direta ou indiretamente diariamente. Matar alguém deliberadamente por motivos raciais é um genocídio étnico, inserir elementos cristãos na Wicca é um genocídio religioso. O primeiro priva um ser humano de sua vida e singularidade cultural, o segundo elimina as bases originais e únicas de uma religião.
Não há radicalismo algum em querer manter as crenças e práticas Wiccanianas num parâmetro coerente. Cristianismo e Wicca são religiões completamente incompatíveis, porque a primeira considera-se uma religião patriarcal, monoteísta, conversista e dominante enquanto a Wicca é matrifocal, politeísta, panteísta,
antiproselitista e minoritária e que não deseja se tornar dominante.
Usando um exemplo simples que pode servir de ilustração comparativa, não acho radical dizer que devemos lutar contra interesses políticos e industriais para manter intocadas as reservas florestais ou o resto de natureza selvagem que ainda resta. As reservas são frágeis e exatamente por isso precisam ser
protegidas com toda força e rigor, caso contrário podem ser facilmente devastadas do dia para a noite pelos interesses da classe dominante e exploradora.
Da mesma forma, não acho radical dizer que devemos lutar contra a incorporação de elementos Cristãos na Wicca, uma vez que o Cristianismo é a religião dominante. Paralelamente falando, trazer o Cristianismo para a Wicca é tão devastador e agressivo quanto levar uma escavadeira para a natureza intocada onde crescem árvores que lutaram 100 anos ou mais para se manterem firmes e enraizadas na terra, presenteando todos com sua beleza. Uma árvore que demorou tanto tempo para crescer e se fortificar pode ser detonada por uma escavadeira em questão de segundos, uma floresta inteira em questão de meses.
A única coisa com a qual o Cristianismo pode contribuir para Wicca é com a total canibalização da Arte através do sincretismo religioso, de forma que ela perca sua total identidade, sua força e com o tempo desapareça.
O Cristianismo, particularmente o Catolicismo, pode até ter incorporado diversos elementos do Paganismo em sua estrutura. Mas na atual situação querer fazer uma aproximação espiritual entre Wicca e Cristianismo é completamente impossível. Os interesses e propósitos das religiões monoteístas são completamente diferentes dos nossos. O sincretismo religioso Cristão é desnecessário, completamente inconsistente e empobrecedor. Nem a Wicca nem
o Cristianismo precisam disso.
Uma coisa é você celebrar divindades Pagãs, se valendo dos seus arquétipos, e invocá-las num ritual puramente Pagão. Outra é chamar duas energias completamente incompatíveis (Deuses Pagãos e os seres espirituais da Mitologia Cristã) e chamá-las para tomar chá das 5h juntas.
Se alguém gosta de praticar magia "a la" Catolicismo, permaneça fiel a esta religião fazendo suas novenas, rezando os seus terços e cumprindo suas promessas. Isso também é magia. No entanto, esse tipo de magia não se enquadra a Wicca, nem o tipo de magia que utilizamos se enquadra ao Cristianismo. Todas as religiões possuem pontos em comum, o que não significa de forma alguma que sejam a mesma coisa.
Os Anjos existem para os Cristãos. Buda existe para os Budistas. Allah existe para os Muçulmanos. Os Antigos Deuses existem para os Wiccanianos.
Uma coisa exclui a outra? De forma alguma, só não fazem parte da mesma religião. Isso significa que ao passo que uma coisa não exclui a outra, eu como Wiccaniano, posso acreditar em todas elas e inseri-las na minha prática?
Não, eu não posso fazer essa mistura!
Estamos falando aqui de frequências espirituais distintas, que não são acessadas quando usamos símbolos ou invocamos seres espirituais diferentes daqueles que estão conectados com a corrente energética de nossa religião.
Tomemos um exemplo simples:
Enquanto eu vejo televisão em minha casa, estou conectado em um determinado canal de TV. Meu vizinho ao lado pode estar conectado a outro. Uma amiga que mora lá em Manaus poderá estar conectada, ainda, em um terceiro canal de televisão distinto. Todos nós estamos vendo coisas diferentes e por isso estamos tendo realidades diferentes ao mesmo tempo, no mesmo plano. Eu não consigo ver o que o meu vizinho está vendo nem ele consegue ver o que eu vejo porque através de nossas televisões estamos acessando frequências diferentes de canais.
Se eu quiser ver o que ele vê, o que devo fazer? Mudar o canal e colocá-lo na mesma freqüência que ele!
Isso significa que eu deixarei de ver as coisas que estavam passando no canal anterior para ter experiências reais através de um novo canal, que opera em uma outra freqüência e sintonia.
Eu sei que todos os canais existem, que várias pessoas estão vendo coisas diferentes em canais diferentes ao mesmo tempo em que eu, vivendo no mesmo planeta. Mas isso significa que eu posso ver e ouvir todos os canais ao mesmo tempo? Obviamente não!
Quando tentamos sintonizar 2 canais ao mesmo tempo a tela fica distorcida, o som chega cruzado e eu não vemos e ouvimos direito nem uma coisa e nem outra!
Poderíamos dizer que tal exemplo é compatível com as correntes energéticas que nos fazem sintonizar com o Sagrado. Cada religião opera em um padrão diferente e distinto e por isso Buda e Krishna não estão para o Islamismo, assim como os Cristo e Anjos não estão para a Wicca.
A Deusa e o Deus da Bruxaria são sexuais, ctônicos e telúricos, o que os torna completamente diferentes da figura do Deus monoteísta e da Virgem Maria assexuados.
Wiccanianos não acreditam no Deus Cristão, em Anjos, Santos, no Céu, Inferno ou seguem a Bíblia. Wiccanianos não acreditam no pecado original ou cordenação eterna. Um Wiccaniano é qualquer pessoa que não seja Cristão, alguém que cultue a Deusa, os antigos Deuses, celebre a Roda do ano e as lunações e chame ou defina a si mesmo como Bruxa ou Bruxo.
Pessoas que praticam a chamada "Wicca Cristã", ou aqueles que querem encontrar desculpas para incluírem elementos Cristãos no Paganismo são Cristãos mal resolvidos. Tais pessoas são indivíduos com uma forte dificuldade de se desligarem de sua criação e valores Cristãos, querendo criar um novo subgrupo dentro de uma religião que pratica e prega algo completamente oposto ao Cristianismo. Não concordar com a mistura destas duas religiões não é de
forma alguma radicalismo ou intolerância ao Cristianismo, mas sim um clamor pela coerência.
Vejamos as diferenças entre a Wicca e o Cristianismo:

1) Para a Wicca a mulher é a fonte sagrada de toda a vida. Para o Cristianismo ela é a fonte de todos os males (vide Eva e o episódio do fruto do pecado original no Jardim do Éden).
2) Para a Wicca a fonte primordial de toda a vida é feminina (por alguns considerada feminina e masculina). Para o Cristianismo ela é predominantemente masculina.
3) A Wicca encara o sexo e a sexualidade como uma dádiva dos Deuses, algo bom, que deve ser vivido e celebrado intensamente, pois é sagrado. Para o Cristianismo o sexo e todas as expressões da sexualidade são pecaminosas, devem ser evitadas e reprimidas.
4) Para a Wicca a Divindade é panteísta e imanente. Para o Cristianismo o sagrado se apresenta de forma transcendente.
5) A Wicca incentiva a responsabilidade nas atitudes humanas. Não há um ser maligno para ser culpado por nossas faltas, a não ser nós mesmos. O Cristianismo coloca sempre tal responsabilidade no Diabo. O ser humano nunca é real responsável por seus próprios atos negativos, é sempre instigado a realizá-los por intermédio das "forças das trevas".
6) A Wicca encara a natureza como sagrada, devendo ser preservada, o homem é parte integrante e filho dela como todos os outros seres. O Cristianismo vê a natureza como algo que foi criado para servir ao homem e por ele ser explorada e subjugada.
7) Para a Wicca tudo que dá prazer e satisfação ao homem é bom. Para o cristianismo todas as fontes de prazer (sexuais ou não) devem ser evitadas.
8) Para a Wicca todo ser humano nasceu livre de pecados e karmas, estamos qui para viver intensamente e sermos felizes.
9) Para o Cristianismo o ser humano é fruto do pecado original e já nasceu na posição de pecador. Para a Wicca o ser humano é uma dádiva dos Deuses e nasceu livre, inclusive de qualquer forma de pecado.
10) A Wicca deseja dialogar com outras religiões, pois a intolerância é a base da alienação. O Cristianismo não apenas evita tal diálogo como, inclusive, não tolera em hipótese alguma a mistura de sua espiritualidade com outras.
Algumas pessoas insistem não somente em fazer essa fusão entre as duas religiões, mas até mesmo em afirmar que a Virgem Maria é uma das faces da Deusa.
A questão é, o Sagrado Feminino não se manifesta somente no Paganismo. Cada religião possui o Sagrado Feminino em suas bases de uma forma ou outra.
Porém, qual Sagrado Feminino estamos nos referindo quando fazemos tal afirmação? O Pagão ou o Cristão? Um é diferente do outro.
Muitos também insistem que aquelas que usam ervas, rezadeiras e parteiras são Bruxas. Porém, o Cristianismo que sobreviveu com as rezadeiras, no culto ao Feminino dos Goliardos medievais e em outras ordens religiosas de mulheres Cristãs, por exemplo, não pode ser considerado Paganismo. Ele é simplesmente outra das muitas formas do Cristianismo misturado ao folclore e sabedoria popular. Fazendo um paralelo, os monges da Idade Média transcreviam o que tinha sobrevivido das lendas divinas e contos folclóricos dos antigos povos da Europa e nem por isso eram Pagãos.
Pode ser que o Paganismo tenha precisado vestir alguns elementos Cristãos no passado para sobreviver, assim como o Cristianismo precisou se valer de vários elementos do Paganismo na construção de identidade para sobreviver, crescer e angariar novos adeptos. Mas hoje isso não é só mais necessário como deve ser evitado.
Talvez, primar por uma exclusão dos elementos Cristãos no Paganismo e evitar que mais Cristianismo possa ser incluído na Arte seja uma das poucas formas que temos de honrar os Pagãos do passado que se mantiveram fiéis aos Antigos Deuses e que não puderam ter essa postura em seu próprio tempo, em função do preconceito e intolerância de sua época.
Muitas pessoas usam falsas justificativas para continuar atrelados ao simbolismo Cristão, dando desculpas incoerentes por pura falta de coragem em se libertar dos grilhões que nos aprisionam há tempos.
Mesmo que os cultos à Deusa tenham sido praticados nos locais da aparição de santos, mesmo que muitos Deuses tenham se transformado em santos para facilitar o processo de expansão do Cristianismo, como Pagãos, devemos nos voltar às verdadeiras faces destas divindades e invocar os seus verdadeiros nomes. Eliminar todo o tranço Cristão dos santos de hoje que foram Deuses ontem é dever de cada Pagão.
Em vez de cultuar Santa Brígida, por que não chamar pela Deusa celta Brigit? Em invés de invocar São Tirso, vamos invocar Dionísio. No lugar de nos voltarmos à Maria, é hora de reverenciarmos novamente a semítica Deusa Mari em todo seu esplendor e pureza. Por que rezar para Nossa Senhora dos Navegantes se podemos chamar por Ísis Pelagia, a face da Deusa do Nilo que deu origem aos rituais de navegação que foram assimilados posteriormente pelo Catolicismo com a clara intenção de exterminar totalmente o antigo Paganismo e expandir a nova fé?
O dever de todo Pagão é resgatar os nomes e dignidade dos Deuses Antigos e não cultuar os Santos e figuras Cristãs com a desculpa de que eles são a sobrevivência de antigos Deuses. Muitos santos de hoje podem até realmente ser uma sobrevivência de antigas Divindades Pagãs, mas são sua sobrevivência vegetativa, cujos atributos originais foram marginalizados e completamente tolhidos. A única maneira de exercitar o Paganismo com dignidade é retirando os Deuses de sua existência vegetativa na figura das santas e santos católicos e resgatar novamente suas verdadeiras faces divinas, nomes e atributos originais.
Os Deuses agradecem esse ato de consciência e a Wicca também!

Wicca para todos By Claudiney Prieto

ESSA É A OPINIÃO DE UM SACERDOTE DE UMA RELIGIÃO QUE SE DIZ ABERTA AO DIVERSO E SEM PRECONCEITOS.
NÃO É A VISÃO DE TODOS OS WICCAS.
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Esses dias, eu estava no facebook e estava ocorrendo num grupo o debate sobre bruxaria cristã e coisas relacionadas. O grande problema desses debates é que as pessoas se perdem tanto em ego e em suas "verdades absolutas", que acabam saindo da verdadeira ênfase do debate - que, naquele caso era se, era correto o fato de um evento pagão em prol dos animais levar um o nome de um santo cristão, no caso, São Francisco de Assis. E assim começou o debate, se desenrolando e abrangendo vários assuntos... mas o que realmente me chamou atenção foi a bruxaria cristã, que já é um assunto bem polêmico a muitos anos na Bruxaria.
Eu não participei do debate, mas acompanhei e resolvi, baseada nos absurdos que li, abordar esse assunto aqui, lembrando sempre que é uma opinião minha, ou seja, baseada em estudos e pesquisas feitas por mim. Portanto, é uma conclusão que eu cheguei para tal assunto, sendo assim, a MINHA verdade.


Fico cada vez mais boquiaberta com as pessoas que consideram as suas verdades como verdades universais. Elas estudam, pesquisam, tiram suas próprias conclusões, e depois saem espalhando para os quatro ventos que aquela visão - ou seja, a própria - é a única e verdadeira. Vemos muito isso em debates...
A questão da Bruxaria Cristã é ampla e interminável – na minha singela opinião. Justamente por haver muitos pontos de vista e maneiras de praticar e enxergar a própria bruxaria.


Há pessoas que enxergam a Bruxaria como religião – assim como eu! – e que, por isso, defendem a idéia de que é inconcebível a junção das duas crenças – paganismo e cristianismo. Em contrapartida, há pessoas que enxergam a Bruxaria somente como um ofício e que, por isso, reside em toda e qualquer religião – para mim, isso é magia ou então, como preferirem, feitiçaria. E, há também aquelas pessoas que têm a Bruxaria como uma filosofia de vida, ou seja, você pode seguir qualquer religião juntamente com o modo de vida da Bruxaria, uma não interferindo na outra – isso para mim não existe e, pessoas que levam a vida dessa forma são, simplesmente, pessoas que trabalham a espiritualidade.


O fato é que, a Bruxaria é levada levianamente por muita gente ainda. Mas enfim...


Bruxaria Cristã, em minha opinião, não existe. Assim como não existe Bruxaria Nórdica, Bruxaria Grega, Bruxaria Celta e por aí vai... existem sim, Tradições dentro da Bruxaria que trabalham mais com as energias Nórdica, Grega, Celta e também, com a Cristã – certo ou errado? Não sei, mas o fato é que existem pessoas que praticam dessa forma. E se é certo para elas, quem sou eu para contradizer?!

Para mim, o que realmente existe nessa miscelânea toda é: pessoas que são cristãs, mas que trabalham com a espiritualidade de alguma forma ou até mesmo, trabalham com o ofício da magia, que seriam as benzedeiras, as rezadeiras e etc. Mas isso é, PARA MIM! Vocês compartilham da opinião? Ótimo. Não compartilham? Tirem suas próprias conclusões e venham defender seu ponto de vista.
Porém, quando falamos de bruxaria cristã, entramos no mérito dos santos: seriam os santos Deuses e Deusas com outra roupagem?


Nesse quesito, há também várias opiniões. Tem gente que defende que sim. Tem gente que defende que não. #Whatever...


Porém... o fato é que, historicamente, sabemos que vários Deuses/ Deusas e festividades, assim como crenças, do paganismo foram convertidas para o cristianismo, ou então demonizadas. Isso não é novidade para ninguém! Partindo desse preceito, o que te faz ser pretensioso o bastante para pensar que os santos/ santas do cristianismo não são os Deuses/ Deusas do paganismo? Reflitam comigo... se existem panteões diversos – sejam eles pagãos ou não! – é porque vários povos entendiam a conseguiam enxergam a Divindade de diversas maneiras. Sendo assim, Afrodite é para os gregos, mas é Freya para os Nórdicos. São Deusas diferentes? Para alguns sim – aqueles que ainda não entenderam que nós somos humanos e precisamos classificar os Deuses/ Deusas como melhores ou piores, mas a essência é a mesma. E o que, na verdade, são os Deuses se não essências divinas, imanentes e transcendentes? Energias...


Logo, se existe panteão grego, romano, nórdico, celta, e etc... por que não pode existir um panteão cristão? Só porque é da igreja? Não seria até mais “justo” ou coerente enxergarmos dessa maneira – panteão cristão – já que sabemos que nossas Divindades foram levadas para o Cristianismo?


Sendo assim, São Francisco de Assis para os cristãos, mas poderia ser representado como Apolo, Cernnunnos ou até mesmo Pã, para os pagãos.


Você não vê assim? Você não celebra assim? Essa tese não te agrada?


Bem, aí já são “outros 500”, não é mesmo?! Pois esse fato que acabei de relatar é histórico. E quem estudou – e estuda! – um pouco sobre a história da Bruxaria sabe disso.


Eu vejo assim – temos que ser realistas! Independente d’eu acreditar ou não, celebrar ou não, é verdade. Não posso fazer da minha verdade, a verdade de todos. Houveram pessoas antes de mim que estiveram lá, viveram isso, ou até mesmo, pessoas que estudaram esse assunto muito a fundo, e PROVARAM que foi assim. Eu vou colher esse conhecimento e guardá-lo para mim. Vou usar em minha prática? No meu caso, não, pois como disse acima, para mim isso é inconcebível, mesmo que eu saiba e ache fascinante – sim, adoro história da bruxaria! – o fato dos Deuses/ Deusas que eu cultuo hoje serem os santos/ santas das igrejas cristãs. São preconceitos e tabus dentro de mim que ainda não consegui quebrar, para chegar ao ponto desse fato ser irrelevante na minha prática. Mas há pessoas que já ultrapassaram isso – ou até mesmo, isso nunca existiu dentro delas! – e que celebram dessa maneira, independente de levarem a Bruxaria como religião, ofício ou filosofia de vida, que é o caso da pessoa do debate.


Essa tese me agrada? Sim, e muito. Nos faz perceber que somos muito pequeninhos ainda diante do grande mistério que são os Deuses. Precisamos “comer muito feijão”, como se diz por aí, para podermos transpor as barreiras que nos limitam, como por exemplo, negar um fato histórico somente porque não me agrada.


O triste fato é que, infelizmente, alguns pagãos – a maioria – não consegue desprender-se do ódio mortal que alimentam dentro de si com relação a igreja e a qualquer coisa que se relacione com o cristianismo. E, com isso, se fazem de vítimas o tempo todo, com os argumentos: “Eles roubaram nossas crenças, nossos Deuses/ Deusas e ainda tem pessoas que se diz pagão, mas que cultua os santos Deles!”. Sim, eles roubaram nossas crenças, nossos Deuses/ Deusas, é fato... você ficou sabendo disso quando leu algo com relação a Inquisição? – bem provável! Então, você deletou a parte que diz os santos deles são como são hoje somente porque a igreja deu aos nossos Deuses/ Deusas outros nomes?











MAGIA VERNACULAR

Stregheria e Magia Vernacular(1) na Itália: uma comparação
Stregheria e Magia Vernacular(1) na Itália: uma comparação
De Sabina Magliocco
Tradução: Pietra di Chiaro Luna
http://jornale.com.br/wicca/wp-content/uploads/2009/05/imagec3g.JPG
A distinção entre a Stregheria contemporânea e a magia tradicional italiana, práticas de cura e espirituais vem se tornando assunto de debates em um bom número de listas e websites. Neste pequeno ensaio, tentarei resumir algumas das minhas publicações acadêmicas sobre o assunto para uma platéia não escolástica, e também encorajar pesquisas, questionamentos e discussões mais profundas a esse respeito. Preciso ressaltar de início que minha linha é mais acadêmica: como antropóloga e folclorista, considero ambas Stregheria e a magia vernacular italiana como importantes facetas da cultura com seus direitos preservados. Minha intenção não é rejeitar a autenticidade de nenhuma delas, mas ajudar os leitores a entender ambas no contexto nos quais elas se desenvolveram, e como a primeira cresceu para que a segunda esteja no contexto da imigração ítalo-americana.
Stregheria é uma forma de bruxaria neo-pagã ítalo-americana. Ela deve suas origens à Aradia, ou o Evangelho das Bruxas (1889), uma coleção de feitiços, rimas e lendas que um folclorista amador chamado Charles G. Leland que dizia ter vindo de uma vidente florentina chamada Maddalena. De acordo com Leland, Maddalena pertencia a uma família de bruxas que praticavam uma forma de religião pagã centrada no culto da deusa lua Diana. Leland interpretou esses materiais que coletou de acordo com as teorias de folclore popular do fim do século XIX: como sobreviventes de antigas religiões pagãs, especialmente das romanas e etruscas, civilizações que dominaram a Itália central. Ele chamou a bruxaria de la vecchia religione (a velha religião). Já do início, o trabalho de Leland foi controverso. Alguns dos materiais que fazem parte desse trabalho - a conjuração com os limões e alfinetes, por exemplo - têm análogos no folclore italiano. Outras histórias parecem ser versões de rimas infantis italianas, reescritas para servirem aos intentos de Leland. E a personagem de Aradia parece ser baseada numa figura do folclore italiano medieval: a bíblica Herodias (Erodiade em italiano), era creditada por voar pelo ar à noite com uma procissão fantasmagórica. Mas esses pedaços de folclore não aparecem em outros locais no folclore italiano como parte de um texto. Se o Evangelho das Bruxas era um texto autêntico de uma tradição popular, uma outra versão teria sido coletada em algum ponto por algum historiador ou folclorista. Porém nenhum texto semelhante foi encontrado pelos etnologistas italianos. Por essa razão, o "Aradia" de Leland sempre foi entendido como uma farsa. Mais recentemente, o historiador Robert Mathiesen propôs uma nova explicação: que Aradia seja interpretada como um texto dialógico e intersubjetivo - um produto de uma interação próxima entre Leland e Maddalena, durante a qual Maddalena selecionou e reinterpretou pedaços do folclore que poderiam interessar ao seu abastado patrão. O resultado foi um documento que incorpora muitos elementos de folclore, mas amarrado de forma não usual, dando a eles uma interpretação única e atípica.
A despeito das controvérsias a seu respeito, o texto de Leland se tornou bem influente: ele igualitava magia popular a uma tradição antiga envolvendo a veneração de uma deusa e localizou tudo isso na Itália. Leland influenciou claramente Gerald Gardner, a quem são dados os créditos do desenvolvimento da Wicca em sua forma presente, e através de Gardner, toda uma geração de bruxas. Entre os primeiros a se assumir como praticantes de bruxaria italiana está Leo Louis Martello (1933-2001). Martello dizia ter sido iniciado por um membro de sua família ainda menino. Ele descreve uma tradição hereditária baseada no mito siciliano da deusa Proserpina (Perséfone). Juntamente com a sacerdotisa Lori Bruno, também uma praticante hereditária, ele fundou a Trinacian Rose of New York City, um dos primeiros covens ítalo-americanos da América do Norte.
Mas o real herdeiro de Leland é Raven Grimassi, o arquiteto da Stregheria. Como Martello e Bruno, Grimassi diz ter sido iniciado numa família de tradicional prática de magia a qual ele descreve como hereditária, doméstica e secreta. A mãe de Grimassi vem de uma região da Campânia, perto de Nápoles. Ela pertence a uma família na qual os membros praticavam certas tradições mágicas, incluindo a remoção do mal-olhado, o feitio de licores e poções mágicas e divinação. Como as outras tradições descritas por Martello, Bruno e um número de etnologistas italianos, ela consistia num conjunto de ensinamentos secretos, limitada a membros da família, passada apenas para aqueles que tinham algum tipo de interesse ou habilidade mágica inatos. Mas não é sobre essa tradição que Grimassi escreve em seus livros Ways of the Strega (1995), Hereditary Witchcraft (2)(1999) e Italian Witchcraft (2000). Ao invés disso, ele apresenta uma elaboração do que Leland descreveu: uma religião parecida com a Wicca em estrutura e prática, com um sabor italiano adicionado com nomes de deidades, espíritos e sabás. De acordo com Grimassi, as bruxas italianas se dividem em três clãs: a Fanarra, no norte da Itália e a Janarra e Tanarra na Itália central. Nenhuma menção é feita ao sul da Itália, a despeito do fato de que a maioria dos imigrantes italianos da América do Norte, incluindo a mãe de Grimassi, tenham como origem aquele local. Cada tradição é dirigida por um líder conhecido como Grimas. Como o nome dos clãs de streghe, a palavra grimas não aparece na língua italiana ou qualquer um de seus dialetos. As streghe ítalo-americanas fazem suas práticas em círculos chamados boschetti (groves, bosques) liderados por uma sacerdotisa e um sacerdote. Eles se encontram nas luas cheia e nova e observam a comemoração de oito sabás. Eles veneram uma deusa lunar e um deus de chifres, baseados nas deidades etruscas Uni e Tagni, também conhecidos como Tana e Tanus, Jana e Janus, Fana e Fanus. Espíritos ancestrais conhecidos como Lasa olham pela família e outros espíritos como Fauni, Silvani, Folletti e Linchetti têm papéis importantes na Stregheria. Os guardiões das quatro direções são chamados Grigori. Enquanto os livros de Grimassi foram muito influentes nos EUA, covens individuais que não descendem dessa forma de prática podem não seguir ou não praticar de acordo com os ensinamentos de Grimassi. Como em toda a Arte neo-pagã, existe uma grande variação e adaptação entre grupos e indivíduos. A linha comum que costura todos os covens da Stregheria parece ser os esforços para dar a sua prática um gosto italiano, tanto pelo tipo de deidades veneradas, para as comidas servidas em rituais, ou a adaptação de práticas italianas e ítalo-americanas num contexto pagão.
O gênio de Grimassi é mais criativo do que acadêmico. Ele nunca disse estar reproduzindo exatamente o que é praticado na Itália, admitindo que as streghe "adaptaram alguns costumes wiccanos em seus caminhos" (1995:xvii). Ele abertamente coloca que está expandindo de sua própria tradição familiar, adicionando elementos para restaurar o que ele imagina ser seu estado original. Mas de suas tentativas para restaurar uma tradição, uma nova tradição emergiu: uma que tem pouca semelhança com qualquer coisa que foi praticado na Itália ou em comunidades de etnia ítalo-americana.
Enquanto baseada em magia popular italiana, fatos históricos e coleções folclóricas, a Stregheria é, como muitas formas de restauração da Bruxaria, uma tradição moderna. O folclorista Robert Klymasz, escrevendo sobre o que acontece com o folclore como resultado da imigração para uma nova cultura, identificou três camadas para de folclore que são presentes em qualquer comunidade étnica. Essas incluem a tradicional, com claras ligações com as formas do mundo antigo; a transitória, na qual alguns elementos do mundo antigo se cristalizam, enquanto outras se adaptam para o novo contexto; e a inovadora, na qual novo folclore é desenvolvido para satisfazer as formas que foram perdidas com o tempo (Klymasz, 1973). A Stregheria pertence a essa última categoria. Ela tem alguns pontos em comum com a magia tradicional italiana, a qual vamos delinear em seguida; mas tem mais diferenças que similaridades. Seu verdadeiro valor está em sua habilidade de trazer aos ítalo-americanos contemporâneos um novo contexto no qual podem interpretar a magia popular e suas práticas que ficaram em suas famílias por gerações, dando a essas tradições, nova vida. Nesse processo, ela tem um papel vital em ajudar a criar e manter uma identidade para seus praticantes.
A Magia Vernacular Italiana, em contraste, não é nem uma religião nem um sistema formalizado de práticas. É tanto uma forma de ver o mundo quanto um conjunto de costumes amarrados aos ciclos agro-pastorais que é firmemente preso às vidas de seus praticantes, quase nunca em um nível consciente. Para a maioria de seus praticantes, é apenas uma forma comum de fazer as coisas e se comportar. Enquanto a magia vernacular pode ter raízes históricas em práticas pré-cristãs, ela não é preponderantemente pagã em tradição, mas sim enraizada numa matriz cultural católica romana. Em meu mais recente trabalho, chamei isso de "visão de mundo encantado", brincando com a idéia de Max Weber de desencanto do mundo.
A visão de mundo encantado na Itália é enraizada numa economia e sistema social pré-mercado. Por conta das atividades de subsistência associadas com a terra, o tempo era organizado de acordo com ciclos sazonais; esses são refletidos no ano ritual, que é determinado pelas formas litúrgicas católicas. Esses geralmente são interpretados regionalmente de forma a se ligarem aos ciclos econômicos: por exemplo, em Campânia, onde as colheitas de trigo e cânhamo foram substituídas por tabaco, que tem um ciclo parecido de crescimento, o ano ritual começava com o plantio próximo ao dia de São Martinho, no meio de novembro, e estendido até o fim da colheita, na época de Cosme e Damião em outubro. Em áreas pastorais como a Sardinia e os Apeninos, maio e setembro, os meses que envolvem um cuidado maior com os animais de fazenda, são enfatizados em práticas rituais. A forma exata do ritual do ano difere claramente de um ano para o outro. Os símbolos - as Madonas e os santos - são os mesmos, mas cada cidade varia a forma de colocá-los em seu sistema econômico. A visão de mundo encantado não está apenas enraizada no ciclo do ano rural; também é presente na vida pessoal dos moradores e seus ciclos. Começa com o nascimento e penetra cada fase da vida e cada rito de passagem, do momento do nascimento, quando a maioria das crianças italianas que não nascem envoltas na placenta (la camicia) ganha uma camisa de um parente, geralmente um padrinho, para protegê-las de influências maléficas, até os funerais, nos quais uma quantidade de crenças sobre o mundo após a morte é manifestada por pensamentos e atos.
O coração da religião e da magia vernacular italiana faz uma correlação entre os sistemas simbólicos e os sociais e econômicos de uma comunidade. A ligação primária nunca é com as estruturas predominantes como a igreja e o estado. As estruturas hegemônicas podem ou não coincidir com os nativos, mas quando não há um acordo, os primeiros são simplesmente ignorados. Se um elemento em particular não faz sentido em termos de entendimento local de espaço, tempo ou da natureza do mundo, as pessoas o tratarão como se não existisse, como se não houvesse qualquer conseqüência. Como resultado, o cenário da visão de mundo encantado na Itália é totalmente local.
A despeito de seu caráter local, a visão de mundo encantado existe por toda a Itália, em ambas regiões norte e sul, com mais semelhanças que se pode pensar, dadas as diferenças em língua, cultura e economia que caracterizam as vinte regiões da Itália. Alguns conceitos são comuns: por exemplo, o mal olhado e seus diagnósticos e curas são encontroados em todas as regiões e são muito parecidos. Assim, a visão do mundo encantado desafia uma sistematização. Crenças e práticas não são padronizadas em nenhum local, tampouco organizadas dentro de um conjunto de princípios articulados; eles são parte do cotidiano das pessoas, parte da prática delas. O etnologista alemão Thomas Hauschild, que passou quase vinte anos estudando a magia em Basilicata, uma região no sul da Itália, escreveu: "não existe um sistema, somente prática" (Hauschild, 2003:19). A prática é o sistema. As práticas e crenças existem dentro de uma cosmologia, mas seus detalhes raramente preocupam seus técnicos. Assim, uma estrutura como a descrita por Grimassi, com ramificações de práticas organizadas dentro da Itália, cada uma com seus próprios lideres e um corpo sistemático de conhecimento é estranho à visão do mundo encantado da Itália.
A principal característica da visão de mundo encantado é a crença na onipresença de seres espirituais que podem influenciar na vida humana. Esses seres incluem os mortos, santos, a Virgem Maria e Jesus (que são, afinal de contas, nada mais que os mais poderosos dentre os mortos). Espíritos como os folletti, linchetti e monachelli também aparecem, ecoando em alguns seres dados pela fauna mitológica de Grimassi, mas eles são geralmente causadores de problemas e não preocupados em ajudar os seres humanos: eles trançam as crinas de cavalos, espantam os burros e fazem viajantes ficarem confusos. Os espíritos são relacionados a certos tipos de doenças, embora a relação entre os espíritos e a doença muda de crença para crença, de lugar para lugar. Por exemplo, em Basilicata, dizem que os mortos que não descansam causam doenças como a erisipela e "fogo de Santo Antônio" (herpes zoster); em Campânia, acredita-se que as crianças que não tem um desenvolvimento normal são levadas por bruxas em seus vôos noturnos e assim, exaustas em danças e pelo vôo; na Emilia Romagna, Puglia e Sardinia, aranhas e outros insetos são responsáveis por um número de doenças como o tarantismo ou o argismo. Alguns estudiosos sugerem que alguns desses insetos encarnavam espíritos ancestrais e assim, eles tomavam o corpo de suas vítimas pelas mordidas ou ferroadas (De Martino, 2005 [1961]). Até espíritos como os santos e a Madona, que pertencem ao panteão católico, são encontrados em toda a parte: a Madona é geralmente adorada em uma ou mais manifestações locais e os devotos tem suas práticas favoritas baseadas nos atributos de cada Madona e as qualidades as quais ela "representa", ou regras que precisam dentro de seus interesses pessoais.
Em todos os locais na Itália existem pessoas que se especializam no contato com o mundo espiritual. Esses são os equivalentes italianos dos povos encantados (3) europeus ou britânicos e muito de seu trabalho é baseado em no diagnóstico e cura de doenças espirituais. Seus nomes variam de acordo com a região; podem ser conhecidos como guaritori (curandeiros), donne che aiutano (mulheres que ajudam), práticos (sábios), fattuchiere (os que consertam), maghi (feiticeiros) e outros muitos termos que variam em termos de dialetos; mas raramente essas pessoas se denominam streghe (bruxas). Esse termo é extremamente negativo no folclore italiano, e na maioria das vezes se refere a uma pessoa que faz mal a outras. O folclore italiano é rico em lendas de bruxas que viajam pelo ar para seus lendários encontros ao redor da castanheira de Benevento, de bruxas que encolhem para que possam passar por buracos de fechaduras, de bruxas que sugam a respiração ou sangue de suas vitimas e que causam todo o tipo de maus e desgraças para seus vizinhos. Claramente, essas atividades se referem às bruxas folclóricas; elas nunca foram praticadas por seres humanos reais. Ocasionalmente, porém, alguns curandeiros eram acusados de serem streghe por aqueles que acreditavam ser vitimas de magia negra, ou por clientes que não tiveram suas necessidades atendidas.
Existem duas linhas principais na cultura vernacular de cura italiana: cura através de ervas e a cura espiritual. Em alguns casos, ambos podem ser praticados pela mesma pessoa. Das duas, a cura através de ervas é considerada uma habilidade menos espiritual e mais de conhecimento prático. A cura espiritual, ao contrário, é mais ligada com poder pessoal. Esta pode ser chamada de la forza (a força), la virtú (a virtude) ou il segno (o sinal) e acredita-se que seja inato. Mas o poder sozinho é inútil sem rezas, formulas mágicas e técnicas que fazem parte do ofício do povo encantado. Poder e magia eram passados através de uma iniciação, mais comumente feita a meia noite da missa de véspera de Natal, durante a elevação da hóstia - o momento mágico do ano católico no qual é feita a transformação do mundo pelo o nascimento do Salvador, e a hóstia se transforma no corpo de Cristo - e assim, por associação uma transformação acontece. O conhecimento toma a forma de orações que chamam pelos santos e pela Madona, e em alguns casos, seguindo uma técnica que varia de cura para cura. Essas fórmulas e técnicas são secretas; não podem ser passadas para outra pessoa sem que o curandeiro perca seus poderes, e não podem ser passadas sem que seja em momento e local ritual. Geralmente estas são as únicas iniciações e treinamentos necessários para que se passe a diante os encantamentos mais simples. O conhecimento de cura são tipicamente passados dentro da família; em alguns casos, membros das famílias - tipicamente um grupo de irmãos ou primos - devem trabalhar juntos para que as curas se manifestem.
Como os estudiosos documentaram em outras partes da Europa, espíritos aparecem proeminentemente como ajudantes do povo encantado italiano. Enquanto muitos italianos comuns vivem em suas comunidades admitem acreditar em espíritos, e ocasionalmente entram em contato com eles, o povo encantado parece ter uma habilidade mais forte para relacionar-se de perto com eles - muito além daquela das pessoas comuns. Em muitas áreas, a cura é essencialmente conceituada com a batalha contra espíritos malignos - seja de mortos que não descansam, bruxas ou outros. Os curandeiros precisam de ajudantes nessas batalhas, e muitos curandeiros dizem que os tem como espíritos que os guiam em suas práticas. A natureza desses espíritos, mais uma vez, é local e idiossincrática: podem ser santos, ancestrais pessoais ou mortos que os ajudam. Eles podem aparecer para o curandeiro em sonhos e visões: estados de transe ou êxtase são fundamentais para conseguir comunicação com esses espíritos; esses estados são portas para o mundo espiritual para os curandeiros ou qualquer um que trabalhe com magia. Quando o povo encantado confia em santos ou na Virgem Maria como ajudantes, eles mantêm altares para estes, participando ativamente na organização e realização de festivais em sua honra e tem um papel ativo nas irmandades e fraternidades que podem levantar dinheiro para essas festas. Curas para certas doenças podem acontecer especificamente em dias de festivais para santos. Assim, a cura está intimamente ligada com os ciclos econômicos de uma comunidade e com o calendário litúrgico católico.
O povo encantado italiano pode usar uma variedade de instrumentos para seu trabalho, o que pode sugerir uma ligação entre a Stregheria e a Bruxaria Neo-Pagã. Eles geralmente têm cadernos nos quais rezas, feitiços e encantamentos são registrados - os ancestrais dos atuais Livros das Sombras. Alguns usam armas de vários tipos (adagas, espadas, baionetas e mesmo armas de fogo) para espantar espíritos maus ou simbolicamente cortar certas doenças, como vermes. Cordas e cordões também podem ser usados para feitiços ou amuletos de amarração, enquanto outras ferramentas podem ser totalmente idiossincráticas.
A tradição encantada italiana tem um número de traços que sugerem que alguns aspectos da Stregheria moderna que podem vir de dessas práticas populares, e muitos ítalo-americanos que se vêem como portadores da Stregheria cresceram em famílias que preservaram aspectos da visão de mundo encantado da Itália rural. Como o neo-paganismo e a revitalização da bruxaria, esta forma de vida estava organizada em um ano ritual que seguia os ciclos das estações; o sol e a lua influenciavam os ritmos de trabalho e produção. As mulheres eram reconhecidas como nutridoras e doadoras de vida e eram envolvidas com a manutenção de altares para a figura do divino feminino, a Virgem Maria. Seus ancestrais imigrantes foram portadores de uma tradição de curas que envolviam ervas e práticas espirituais. Eles talvez tivessem mantido registros em cadernos sendo percussores dos Livros das Sombras dos neo-pagãos. Suas ferramentas podem ter incluído facas, espadas ou outras armas que eram usadas para espantar espíritos maus e que seu oficio envolvesse comunicação com ajudantes que tomavam a forma de ancestrais. Uma vez que essas tradições podem ser combinadas com a Bruxaria em narrativas populares, é possível que esse ligação tenha permanecido entre gerações depois da imigração, dando às streghe contemporâneas a impressão que seus ancestrais pertenciam a uma sociedade organizada, hierárquica e secreta de antiga de bruxas. Mas o oficio do povo encantado italiano também difere da Stregheria moderna de formas importantes. Este oficio não era uma religião pagã; não há menção a uma deusa ou deus, ou sobre deidades que vinham ao corpo dos praticantes. Ele existe dentro de uma visão de mundo católica, embora era permitido o contato com espíritos ancestrais, o que marca as práticas como locais, regionais e não eclesiásticas, em natureza. Também é ausente a organização wiccana de ritual, e embora existam algumas similaridades entre o ano wiccano e o ano ritual da Itália rural, isso acontece porque o primeiro é baseado largamente nos ciclos agro-pastorais dos irlandeses, os quais possuem uma herança comum com o resto da Europa, incluindo a Itália.
Mas poderia uma religião antiga pré-cristã envolvendo a veneração de Diana ter sobrevivido na tradição plebéia italiana, para ser trazida para a América do Norte pelos imigrantes? A falta de provas escritas faz qualquer resposta para essa questão ser, no limite, hipotética, mas pelos registros históricos tal cenário seria improvável. Três fatores fazem da sobrevivência de uma religião pagã na Itália dentro do século XX, e sua transmissão através dos documentos de Leland improvável: a forte presença do Cristianismo através da península desde o Império romano; a falta de uma cultura e língua unificadas na Itália até o século XIX; e o relativo isolamento das classes plebéias - aqueles que dizem ter mantido a religião de acordo com o mito Neo-Pagão.
Stregheria e a magia e cura vernacular italiana são, então, tradições diferentes, mas interconectadas. Muitos ítalo-americanos que hoje se vêem como portadores da Stregheria cresceram em famílias que preservaram aspectos da visão de mundo encantado em um contexto imigratório. Enquanto a Stregheria pode ser de ajuda para que os ítalo-americanos possam redescobrir aspectos de suas raízes e sentir orgulho por sua herança étnica, sua forma, estrutura e contexto cultural são marcadamente diferentes daqueles da visão de mundo encantado e suas práticas associadas na Itália. Porém, a Stregheria não deveria ser interpretada como não-autêntica, falsa ou arranjada, pois inovação e volta às tradições são partes dessa prática. A visão de mundo encantada não pode existir no contexto da América do Norte contemporânea e urbana; ítalo-americanos precisam de novos caminhos para reconstruir e preservar a sua autenticidade étnica, e para alguns, a Stregheria satisfaz essa necessidade.
1 Vernacular como regional. Estou seguindo os termos da autora.
2 Bruxaria Hereditária, no Brasil, publicado pela editora Gaia.
3 Povo encantado, como aquele que tem conhecimento do mundo espiritual